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May 24, 2023 • 29min

CPI do MST - os objetivos do governo e da oposição

Desde a posse de Lula (PT), a bancada da oposição no Congresso se articula para criar uma comissão parlamentar de inquérito contra o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). O ambiente político para isso se fortaleceu no mês passado: em abril - mês no qual o MST realiza ações para lembrar o massacre de Eldorado dos Carajás (PA), em 1996 – foram registradas ao menos 12 invasões, entre elas em terras do Incra e da Embrapa. Nesta terça-feira (23), a CPI foi aberta com os bolsonaristas Coronel Zucco (Republicanos-RS) e Ricardo Salles (PL-SP), respectivamente, na presidência e na relatoria da comissão. Para analisar impactos políticos e sociais da CPI, Natuza Nery conversa com Luiz Felipe Barbiéri, repórter do g1 em Brasília, e com o sociólogo Celso Rocha de Barros, colunista do jornal Folha de S. Paulo e autor do livro “PT, uma história”. Neste episódio: - Luiz Felipe conta como os deputados bolsonaristas se organizaram para abrir a CPI e “tirar a atenção da comissão sobre os atos golpistas de 8 de janeiro”, na qual muitos deles são alvo. E relata que os deputados governistas veem a CPI do MST como um “termômetro” para as investigações sobre os atos golpistas; - Ele descreve o “clima tenso” do primeiro dia da comissão: deputados bateram boca, tiveram microfone cortado e deram até tapas na mesa. Para os próximos passos, ele antecipa que ministros do governo serão convocados à comissão para “levar pra frente a narrativa bolsonarista”; - Celso corrobora a análise de que os deputados bolsonaristas irão instrumentalizar a CPI para “ganhar a visibilidade que não tinham conseguido até agora” - e que a oportunidade para debater a sério a reforma agrária no país será perdida. “Se os parlamentares conseguirem usar a CPI para se blindarem vai ser muito ruim”; - O sociólogo explica como PT e MST, que nasceram no mesmo período histórico e tinham forte aproximação ideológica, cultivaram a tensão entre si: “Na década de 90, o PT se modera e o MST se radicaliza mais”. Ainda assim, partido e movimento se mantiveram próximos, numa relação que afasta o agronegócio do governo petista. A única alternativa a Lula, afirma, “é apresentar políticas bem boladas para os dois setores”.
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May 23, 2023 • 35min

Vinícius Jr. e a reação contra o racismo na Espanha

No último domingo (21), a partida entre Real Madrid e Valencia, pelo Campeonato Espanhol, foi o cenário do mais grave ataque racista contra o atacante brasileiro. Nos últimos minutos do jogo, Vini Jr. identificou os torcedores que iniciaram os gritos e cânticos criminosos, e exigiu alguma reação da arbitragem. No meio da confusão, trocou agressões com um adversário e foi expulso pelo árbitro - ele foi o único punido em campo. Para explicar por que Vini Jr. é o principal alvo de uma cruel campanha de ódio racial na Espanha e o que vem sendo feito para punir os criminosos, Natuza Nery conversa com dois jornalistas: Fernando Kallás, correspondente de esportes da Reuters na península ibérica, e Paulo Cesar Vasconcellos, comentarista da TV Globo e do Sportv. Neste episódio: - Kallás descreve as dez denúncias de racismo contra Vini Jr. abertas apenas nesta temporada do futebol espanhol – e como esses casos “foram arquivados e nunca foram julgados como delito de ódio”. Dentro do contexto esportivo, ele afirma que “nenhum clube sofreu nenhuma punição” pelos atos racistas de seus torcedores; - Ele relata que, pela primeira vez desde que a onda de ataques racistas começou, o atleta está “mais do que arrasado, está revoltado”. Além das ofensas, Vini Jr. precisa lidar com a inação da La Liga (organizadora do campeonato espanhol) e com o racismo velado da imprensa local. “Tudo isso começou em um programa de televisão, com racismo e xenofobia”; - PC Vasconcellos analisa "o silêncio e a omissão” de diversos atores sociais para que o racismo chegasse ao atual estágio no futebol espanhol. E destaca as “boas notícias” que resultam deste caso: o posicionamento do presidente brasileiro, o acordo de colaboração entre Brasil e Espanha contra o racismo e a xenofobia e o fato de “um jovem preto de 22 anos se manifestar e chamar a atenção do mundo”; - PC relaciona o crescimento no número de episódios de racismo ao “avanço da extrema direita pelo mundo”, e afirma que as punições “se mostram insuficientes para a situação ser modificada”. “A minha razão é de pessimismo, mas quando vejo um comportamento como o do Vinícius passo a ficar mais otimista”, conclui.
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May 22, 2023 • 27min

Mortalidade materna: como combater

No momento mais agudo da pandemia, 70% das gestantes que morreram em decorrência da Covid eram brasileiras. E diante da sobrecarga do sistema de saúde, mulheres não puderam realizar exames adequados para a gestação. Assim, doenças como a pré-eclâmpsia, historicamente a principal causa da mortalidade materna, não tiveram o atendimento médico necessário. Na média, em todos os dias de 2021, 8 mulheres grávidas morreram – trata-se do maior número em mais de duas décadas. No Dia Mundial de Prevenção da Pré-eclâmpsia, Natuza Nery recebe Fatima Marinho, assessora técnica sênior da Vital Strategies, organização global de saúde pública, e a obstetra Maria Laura Costa Nascimento, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Neste episódio: - Fatima fala do “grande retrocesso dos últimos anos”, quando o movimento de queda nos índices de mortalidade materna foi revertido: com o “aumento de casos durante a pandemia”, o número de mortes voltou ao patamar de 1990 – apenas entre 2019 e 2021, os óbitos saltaram de aproximadamente 1.500 para mais de 3 mil; - Fatima também avalia os dados de mortalidade por estado. “Chama atenção o crescimento no Sul, onde havia a menor razão de mortes maternas”, informa – e a principal hipótese para isso é a recusa da vacina contra a Covid. Por outro lado, Pernambuco registrou o melhor resultado; - Laura conta por que a pré-eclâmpsia é a principal causa de mortes maternas no Brasil, embora “evitável em 99% dos casos”. Trata-se de uma síndrome que ataca a pressão arterial e altera órgãos como rins, fígado, cérebro e placenta; - A obstetra detalha o tratamento para a síndrome e como os médicos agem para preparar mãe e bebê para um parto prematuro mais seguro. “Mesmo depois do parto, as mulheres precisam de acompanhamento clínico”, completa.
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May 19, 2023 • 21min

A crise que faz o varejo fechar lojas

Logo no início do ano, uma das gigantes do setor no Brasil divulgou inconsistências contábeis na casa dos R$ 40 bilhões. A Americanas, então, entrou com pedido de recuperação judicial e suas ações derreteram na bolsa de valores. Diante de um cenário de queda nas vendas do comércio, mais empresas de varejo passaram a apresentar resultados ruins, seguidos de prejuízo nos balanços e fechamento de lojas – num setor que emprega mais de 8 milhões de pessoas e depende do consumo das famílias, cada vez mais endividadas. Para esclarecer as causas e consequências desta crise, Natuza Nery entrevista Guilherme Mercês, diretor de economia e inovação da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Neste episódio: - Guilherme elenca fatores que levaram empresas e famílias a se endividar na pandemia e como o elas “levaram um grande baque com a taxa de juros, que subiu muito”. O resultado é que, hoje, 80% das famílias estão endividadas e uma a cada cinco delas gasta mais da metade da renda para pagar dívidas; - Ele explica como o contexto macroeconômico colaborou para o colapso da Americanas – na esteira dela, outras empresas também pediram recuperação judicial e até falência. “Isso agravou ainda mais o cenário e, obviamente, o custo do crédito sobe”; - O economista também observa a crise em escala internacional durante a intersecção da pandemia com a guerra na Ucrânia: assim como o Brasil, nas economias desenvolvidas houve aumento de juros e alta do endividamento. “Foi todo mundo surpreendido”, afirma, “e um exemplo disso são as big tech, que estão demitindo funcionários no mundo todo”; - Por fim, Guilherme comenta o atual momento de “transformação tecnológica”. Para ele, depois de superar o contexto “turbulento que deve durar até 2026”, as empresas precisam investir na “revolução tecnológica” no médio e longo prazo.
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May 18, 2023 • 27min

Deltan Dallagnol cassado pelo TSE

Figura proeminente da força-tarefa da Operação Lava Jato, o ex-procurador foi o deputado federal mais votado do Paraná em 2022, pelo Podemos. Ao deixar o Ministério Público para entrar na carreira política, Deltan ficou livre de 15 procedimentos administrativos que poderiam condená-lo à exoneração e deixá-lo inelegível para cargos públicos, com base na Lei da Ficha Limpa. Na terça-feira (16), o Tribunal Superior Eleitoral decidiu por unanimidade que a manobra de Deltan configura “fraude” e cassou o mandato dele na Câmara – seu substituto será o Pastor Itamar Paim (PL). Para explicar a decisão do tribunal eleitoral e o futuro político dos envolvidos na Lava Jato, Natuza Nery recebe o advogado Henrique Neves, ex-ministro do TSE, e Valdo Cruz, colunista do g1 e comentarista da GloboNews. Neste episódio: - Henrique traduz o voto do relator do processo no TSE, o ministro Benedito Gonçalves: “Se considerou que Deltan fraudou a lei”. Na decisão, explica Henrique, o ministro afirma que o ex-procurador teria “cometido a manobra” de se aposentar para fugir dos processos administrativos que corriam no Conselho Nacional do Ministério Público contra ele; - O ex-ministro do TSE aponta as diferenças entre os processos de Deltan e os do senador Sergio Moro (União-PR). No caso de Moro, o tribunal analisou os casos de forma “completamente diferente”, uma vez que Moro deixou o MP não para uma candidatura, mas para assumir um ministério; - Valdo analisa as chances de Deltan conseguir reverter a cassação no Supremo Tribunal Federal: “São pequenas. E vamos lembrar que ele já começa o julgamento perdendo de 3 a 0”, ao citar os ministros do STF que também estão no TSE. Valdo conta que o deputado cassado tenta até “criar um ambiente” para pressionar o Supremo, ainda que “não tenha clima favorável dentro da Câmara” para isso; - O jornalista revela o comportamento de duas alas do governo Lula em relação a ex-integrantes da força-tarefa da Lava Jato: “uma ala tem mágoa e ressentimento, e fala em ir à forra”, enquanto outro grupo defende “deixar o passado para lá” para reduzir o ruído da polarização política.
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May 17, 2023 • 31min

Petrobras e a nova política de preços

Durante a campanha eleitoral de 2022, Lula (PT) prometeu que, caso eleito presidente, daria fim à política de paridade de importação para a formação de preços dos combustíveis, a PPI - adotada pela estatal em 2016 como principal medida para recuperá-la de três anos seguidos de prejuízos. Nesta terça-feira (16), Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, anunciou a substituição da PPI por uma política que irá “abrasileirar” os preços. Para explicar o que muda na formação do valor do combustível na bomba e quem ganha e quem perde com a transição, Natuza Nery conversa com o economista Breno Carvalho Roos, especialista em petróleo e professor da UFRN, e com Manoel Ventura, repórter de economia do jornal O Globo, em Brasília. Neste episódio: - Breno avalia que o “consumidor ganha” com a nova política, ainda que o comunicado oficial não seja claro em relação à fórmula de precificação que será adotada. Para ele, a estatal tende a reduzir a volatilidade e a “cobrar preços mais baixos”, ao mesmo tempo que "deve manter sua saúde financeira no longo prazo”; - O economista descreve o “peso do preço dos combustíveis na inflação” e suas repercussões macroeconômicas. “Se você tem preços compatíveis, arrefece a pressão inflacionária”, afirma. E no aspecto da demanda, acredita que pode crescer a comercialização de combustível e haver “aumento nas receitas da Petrobras”; - Manoel comenta a reação do mercado financeiro, onde as ações da estatal subiram nesta terça-feira: a mudança na política de preços já estava “precificada” e havia expectativa “pelo pior”, mas a avaliação foi majoritariamente positiva em relação ao anúncio da nova política de preços; - Ele entende que o governo avaliou o melhor momento político para anunciar o fim da PPI: a pauta positiva “mostra que o presidente tem poder para cumprir promessas de campanha”, acena para a base governista e pressiona o Congresso para a aprovar o texto da PEC do arcabouço fiscal, que deve ir ao plenário essa semana.
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May 16, 2023 • 29min

Turquia rumo ao 2º turno histórico

Chefe de Estado desde 2003 (quando a função ainda era desempenhada pelo primeiro-ministro), Recep Tayyip Erdogan saiu na frente na votação do domingo (14): com 49,51% dos votos válidos e maioria no Parlamento. Então favorito nas pesquisas e líder da coalização de seis partidos de oposição, Kemal Kilicdaroglu obteve 44,8% dos votos. Para analisar os rumos da democracia turca, e como ela reverbera na geopolítica global e no avanço da extrema-direita pelo mundo, Natuza Nery entrevista o economista Maurício Moura, sócio do fundo Zaftra e professor da Universidade George Washington, e Marina Slhessarenko Barreto, pesquisadora do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo e uma das autoras do livro “O caminho da autocracia: estratégias atuais de erosão democrática”. Neste episódio: - Depois de passar 10 dias na Turquia, Maurício relata o clima de “engajamento, polarização e tensão” em cidades pequenas e médias e em metrópoles como Istambul e Ancara. Lá, ele visitou comícios da situação e da oposição, onde foi detido por policiais: “Dá uma noção do clima tenso que envolve política na Turquia”; - O economista explica como a inflação galopante, que já superou os 80% ao mês, age como “principal cabo eleitoral da oposição” nesta eleição, em contraponto ao “domínio da máquina pública” pelo grupo político de Erdogan. E embora Kilicdaroglu tenha também o apoio majoritário dos empresários, ele aposta na vitória do atual presidente; - Marina avalia a “força persistente” de Erdogan, que elegeu maioria no Parlamento turco, e chega ao 2º turno com mais de 2,6 milhões de votos de vantagem. Ela conta como ele conseguiu superar uma tentativa de golpe de Estado e “transformar a Turquia de parlamentarista em presidencialista” para se manter no poder; - A pesquisadora comenta os movimentos de “experimentação e exportação transnacional” de tecnologia política entre a rede de países alinhados à extrema-direita global – caso de Turquia, Hungria, EUA (sob governo Trump) e Brasil (sob Bolsonaro). E destaca o aparelhamento da educação, do espaço cívico e da segurança pública como ferramentas de “autocratização”.
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May 15, 2023 • 26min

Ghosting - o 'sumiço' em relacionamentos

Fenômeno presente há séculos na cultura dos relacionamentos, o “desaparecer” da vida de alguém, sem dar explicação alguma, ganhou impulso em uma sociedade em que redes sociais e aplicativos de encontro são onipresentes. O sofrimento provocado pelo abandono expõe a dificuldade que temos de lidar com o medo da solidão. Para falar sobre esse comportamento – retratado há mais de 2 séculos por Jane Austen no romance “Razão e Sensibilidade” – Natuza Nery conversa com Natalia Timerman, psiquiatra e autora do livro “Copo Vazio”, em que a personagem principal tem que lidar com o sumiço de um amor, e Ana Suy, psicanalista e professora da PUC-PR, ela é autora de “A gente mira no amor e acerta na solidão”. Neste episódio: - Natalia conta sobre como superou um “perdido” e escreveu um romance, sem saber que tinha sido vítima de ghosting: “Intuí que era algo que não dizia só a mim”. Isso porque, argumenta, quando a ruptura acontece sem explicações, “a dor é muito maior”; - A escritora aponta que o ghosting ocorre entre homens e mulheres, e em relacionamentos hetero e homoafetivos: “É como um tiro no pé, porque o amor é uma potência humana”. No entanto, Natalia pondera que a prática é potencialmente mais prejudicial ao gênero feminino. “No imaginário das pessoas, o relacionamento tem peso maior para as mulheres”, afirma; - Ana analisa as motivações de homens e mulheres para praticar ghosting: “Há dificuldade em falar o que sentimos para o outro”, aponta, lembrando que “pode ser ainda mais difícil dizer o que sentimos para nós mesmos”. E acrescenta que “sumir” é entendido como uma forma de não lidar com a decisão de um rompimento; - Para ela, o medo do abandono e da solidão “se enlaçam em questões muito primitivas em nós” - e podem levar à incompreensão do próprio sofrimento. A psicanalista aponta como a chamada responsabilidade afetiva entra como resposta a isso, mas pode “tolher a naturalidade e espontaneidade” das pessoas nas relações.
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May 12, 2023 • 29min

Economia do cuidado: o trabalho invisível

Mães e mulheres sobrecarregadas, exaustas, esgotadas. Aspectos das disparidades de gênero nas relações de trabalho. Na média, mulheres passam o dobro do tempo que homens em funções domésticas e de cuidado com filhos e/ou demais familiares. Somadas as horas de trabalho não remunerado de meninas e mulheres em todo o mundo, o total seria equivalente ao quarto maior PIB do mundo, uma geração de US$ 10,8 trilhões por ano. Para debater os vários aspectos do trabalho invisível, Natuza Nery conversa com a jornalista e escritora Vanessa Barbara, autora do livro “Mamãe está cansada”, e com Maíra Liguori, diretora da ONG Think Olga. Neste episódio: - Vanessa recorda dos momentos em que ficou isolada com a filha na pandemia - período que rendeu a ideia para o livro. "É insano achar que uma pessoa só seja capaz de cobrir todos os aspectos de desenvolvimento de uma criança”, afirma. “É mentalmente e fisicamente impossível para a mãe”; - Para ela “a sociedade ainda não entendeu” o peso da sobrecarga da múltipla jornada de trabalho (que contempla trabalho formal, funções domésticas e cuidado com filhos). Os exemplos, aponta, são a falta de investimento em creches, escolas, parques e equipamentos de lazer. “As cidades são hostis com crianças”, conclui; - Maíra resume do que se trata o conceito de economia do cuidado: “A contribuição de maneira gratuita e invisível do trabalho de geração e manutenção da vida”; - Ela argumenta que a atribuição do cuidado centralizado nas mulheres é resultado de um processo cultural presente em todo o mundo, que tem início ainda na primeira infância: “Trata-se de uma imposição cultural”.
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May 11, 2023 • 30min

Governo e mercado: estranhamento e aproximação

Nesta quarta-feira (10), uma nova edição da pesquisa Genial/Quaest indicou ligeira contradição dentro do mercado financeiro: enquanto agentes seguem mal-humorados em relação a Lula (PT) - cuja avaliação é negativa para 86% dos entrevistados – a avaliação positiva sobre Fernando Haddad (PT), no comando da Fazenda, subiu 16 pontos percentuais. Diante do morde e assopra dos dois lados, o mais recente movimento de aproximação feito pelo governo foi a indicação de Gabriel Galípolo, atual número 2 de Haddad, para a mais importante diretoria do Banco Central. Para avaliar o atual status da relação governo-mercado, Natuza Nery conversa com o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, e com o próprio Gabriel Galípolo. Neste episódio: - Felipe explica como Fernando Haddad se tornou o “malvado favorito” da Faria Lima: aprovação ao arcabouço fiscal, revisão de renúncias fiscais e iminente queda na taxa de juros. Mas pondera como Lula segue por um caminho diferente e “ainda não comprou o mercado”; - O cientista político descreve as atribuições do diretor de política monetária do BC: “Uma posição que fala muito com o mercado financeiro”. E revela que a expectativa dos agentes econômicos é de que, ao assumir o cargo, Galípolo esteja integrando um “estágio de um ano e meio antes de virar presidente do BC” - o mandato de Campos Neto vai até o fim de 2024; - Galípolo diz que sua indicação à diretoria do BC se deve ao “excelente diálogo” que tem com o atual presidente da instituição - com quem, diz, “conversa quase todo dia”. E afirma que isso faz parte de um movimento para “harmonizar as políticas fiscal e monetária”; - O economista avalia a opinião do mercado sobre a atuação do governo e responde que “o mercado oferece outra ferramenta muito boa, que são os preços dos ativos”. Para Galípolo, é natural que os agentes financeiros tenham recebido as propostas da Fazenda com ceticismo – que, argumenta, “só será vencido com ações e com vitórias”.

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