O Assunto

G1
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Apr 25, 2022 • 27min

Desglobalização: causas e implicações

Processo construído ao longo de séculos e acelerado nas últimas décadas, a globalização está em xeque ao enfrentar uma pandemia e uma guerra. “[A globalização] foi planejada. A desglobalização, não”, diz Tatiana Roque, professora de matemática, história das ciências e filosofia na UFRJ. Para ela, este fenômeno recente ainda tem significado fluído, mas pode ser entendido como a “desconexão de setores da produção dos países em relação às regras globais”, com aspectos mais amplos que somente o econômico. Na entrevista a Natuza Nery, a pesquisadora descreve os movimentos liberais globais que instituíram os mecanismos comerciais no último século como “lógicas de proteger o mercado das decisões políticas nacionais” que, hoje, estão em crise e cujo resultado é a perda de força de todas as organizações multilaterais e o crescimento de movimentos protecionistas e nacionalistas, inclusive de viés autoritários. No campo econômico, Tatiana explica a estratégia chinesa de “circulação dual” para ser menos dependente da cadeia global de suprimentos – e como ela foi acentuada durante a crise sanitária e adotada pelos EUA e por muitos países europeus.
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Apr 22, 2022 • 23min

O desmonte da Lei Rouanet

Desde o início do mandato, Jair Bolsonaro ameaça “desconstruir muita coisa” - e a cultura foi uma das áreas onde seu governo trabalhou mais ativamente para isso. Além do veto à Lei Paulo Gustavo, que destinaria recursos federais para compensar as perdas do setor durante a pandemia, destaca-se a perseguição à Rouanet - legislação de mais de 30 anos, que financia projetos culturais por empresas privadas via abatimento fiscal. Como define Cris Olivieri, advogada especializada em políticas culturais, uma série de alterações vigentes a partir de fevereiro já foram “muito impactantes para o setor”: corte de valores em até 50% para projetos de teatro, museus e espetáculos musicais e redução no prazo de captação para 24 meses. E que o que mais preocupa: a concentração de poder na aprovação final de projetos é feita pelo secretário especial da Cultura – regra que gera distorções, caso das declarações do ex-secretário de Fomento à Cultura, no qual garante a sua base a liberação de recursos para projetos culturais em prol do armamento. Em entrevista a Natuza Nery, Cris explica que o valor médio de pagamento da lei é de R$ 3.500, ou seja, “o dinheiro fica na mão de uma cadeia gigante de profissionais”. Trata-se, explica a advogada, de um setor que representa 2,6% do PIB e emprega 5,5 milhões de pessoas: “um dos poucos que impacta outros 60 setores da economia”.
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Apr 20, 2022 • 21min

Fim da emergência sanitária: risco no combate à Covid

Pela primeira vez desde fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde reduz o nível máximo de alerta em relação à pandemia. O anúncio de Marcelo Queiroga – feito em cadeia nacional no domingo de Páscoa - derruba mais de duas mil normas de esferas estadual e municipal em todo o país e vai na contramão da recomendação da OMS, que reforça o status de emergência internacional. Para Deisy Ventura, jurista e professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, trata-se de mais uma “irresponsabilidade concreta” do governo federal na condução das medidas sanitárias contra a Covid. Em entrevista a Natuza Nery, ela recorda que o Brasil iniciou a pandemia “com a pior resposta” e que tenta, agora, encerrar sua relação com a doença da mesma forma. “É mais um crime contra a saúde pública”, afirma sobre a decisão que foi apresentada à população brasileira sem os instrumentos legais e os detalhes técnicos pelo ministro da Saúde. Para Deisy, trata-se de uma “declaração falsa” para o fim da pandemia, cujo objetivo é somente a “produção de conteúdo para a campanha eleitoral” de reeleição de Jair Bolsonaro.
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Apr 19, 2022 • 31min

Os áudios que atestam tortura no regime militar

Trechos de sessões do Superior Tribunal Militar (STM) publicados pela jornalista Miriam Leitão, comentarista da TV Globo e colunista do jornal O Globo, revelam abusos contra direitos humanos cometidos durante a ditadura. Em conversa com Natuza Nery, o advogado Fernando Augusto Fernandes - autor da ação que, com aval do STF, disponibilizou ao público os áudios - relata a pesquisa de quase 25 anos para chegar às gravações. Seu conteúdo confirma que os ministros do STM tinham “pleno conhecimento das torturas”, institucionalizadas como “política de Estado” durante o regime. Para o advogado, só chegaremos a uma democracia plena “no momento em que as Forças Armadas pedirem desculpas públicas” pelas arbitrariedades cometidas. Também neste episódio, Pedro Dallari, coordenador da Comissão Nacional da Verdade, condena a reação do vice-presidente Hamilton Mourão, que riu ao ser questionado sobre os áudios: “Profunda desumanidade”. Ele recorda o fato de que mais de 200 casos de desaparecimento seguem abertos e suas famílias não puderam “velar e sepultar seus corpos”. Sobre a Comissão, ele comenta importantes episódios na busca por memória. “As próprias Forças Armadas teriam interesse em limpar essa mancha em sua trajetória”.
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Apr 18, 2022 • 23min

Os políticos de mandato virtual

Eleitos na onda do bolsonarismo, eles pregaram o discurso da nova política. Além de terem nascido de um mesmo movimento, Gabriel Monteiro (vereador da capital fluminense) e Arthur do Val (deputado estadual em São Paulo) têm em comum o fato de terem milhões de seguidores nas redes sociais antes mesmo de serem eleitos. Agora, veem seus mandatos em risco por diferentes crimes. “Eles têm casca de novidade, discurso de renovação, mas trazem coisas muito velhas de volta à política”, analisa Bernardo Mello Franco em conversa com Natuza Nery. “A mesma tela do celular que ajudou na eleição, pode ser também pivô da cassação” dos dois, diz Bernardo, sobre os casos de Gabriel Monteiro – investigado por registrar sexo explícito com uma adolescente – e Arthur do Val – que em um áudio gravado fez comentários machistas e misóginos sobre refugiadas ucranianas. Colunista do jornal O Globo e comentarista da rádio CBN, Bernardo pontua que, diferente de nomes como Wagner Montes, Celso Russomanno e Roberto Jefferson (todos alavancados por suas popularidades no rádio e na TV), o que diferencia os casos de agora é o fato de que tanto Gabriel Monteiro quanto Arthur do Val não terem “entrado nas regras do jogo”. “A novidade é que eles não têm interesse pelo mandato parlamentar”, conclui Bernardo. Também neste episódio, Fabio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo, discute as relações entre entretenimento e política na internet e comenta a confluência com outro fenômeno: quando celebridades falam de política.
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Apr 14, 2022 • 26min

A nova fase da guerra na Ucrânia

Depois de seis semanas de invasão russa, a maior batalha entre as duas nações parece estar se aproximando. O exército de Vladmir Putin projetou uma ofensiva em todo território ucraniano, mas, barrado nos arredores da capital Kiev, reorganizou suas tropas para dominar a região leste. Ao mesmo tempo, Volodymyr Zelensky segue em campanha para receber armas e equipamentos de seus aliados no Ocidente. O conflito agora, avalia Oliver Stuenkel, perde a “assimetria militar” e se concentra em “menor território”: “Deve aumentar a violência e a intensidade”, afirma em entrevista a Julia Duailibi. O acirramento ocorre também na propaganda de guerra. Enquanto Moscou informa ao mundo que rendeu mais de mil soldados rivais e que tomou o porto de Mariupol – cidade que, agora, é o epicentro dos combates –, autoridades ucranianas acusam os russos de cometer crimes de guerra – a denúncia mais recente é de uso de armas de fósforo branco em ataques, proibida desde 1997. Stuenkel, que é professor de relações internacionais da FGV e autor do livro “O mundo pós ocidental”, explica que não há mais clima para negociações diplomáticas e que a “radicalização dos dois lados torna pouco provável um acordo de paz”.
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Apr 13, 2022 • 23min

Sarampo: riscos de surtos e importância da vacina

Em 2016, a Organização Panamericana de Saúde conferiu ao Brasil o certificado de que o vírus fora eliminado do país. Uma conquista que duraria pouco: apenas três anos depois, o Ministério da Saúde contabilizaria quase 12 mil novos casos da doença - crescimento proporcional ao recuo na cobertura vacinal infantil. Desde que o sarampo voltou aos registros oficiais, já são mais de 40 mil pacientes e 40 mortes, metade delas em crianças abaixo de 5 anos de idade. Em entrevista a Julia Duailibi, o médico Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, conta que, como professor, “formou várias gerações de médicos” que nunca haviam visto um caso sequer de sarampo – e que, hoje, precisam de treinamento específico para diagnosticar a doença, cujos sintomas iniciais se assemelham a de outras viroses. Sáfadi descreve também o ciclo infeccioso do vírus, seu índice de transmissibilidade e seu risco de hospitalização e doença. Este ano, já são 13 casos confirmados e cerca de 100 suspeitos da doença, sendo 25 deles no estado de São Paulo, onde a epidemiologista Regiane de Paula é coordenadora de controle de doenças. Também neste episódio, ela fala sobre o fenômeno recente da queda na vacinação, consequência de fake news e desinformação.
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Apr 12, 2022 • 24min

França: Macron x Le Pen de novo no 2° turno

Cinco anos depois de ser eleito, o presidente francês volta a enfrentar sua adversária de 2017. Um primeiro olhar pode indicar um cenário parecido com a última eleição, mas agora os discursos são diferentes: “vai ser uma eleição a favor ou contra a política liberal do Macron, mais do que uma briga entre a extrema-direita e o centro democrático”, analisa o cientista político Miguel Lago, que leciona na Universidade Columbia, em Nova York, e na Sciences Po, em Paris. Na conversa com Julia Duailibi, Lago analisa o que deve ocorrer nas próximas duas semanas antes do 2° turno. Para barrar a extrema-direita, segundo ele, “Macron vai precisar ter o candidato socialista Mélenchon o apoiando explicitamente”. Lago lista ainda as implicações para geopolítica da Europa em tempos de guerra na Ucrânia e as possíveis consequências para o Brasil.
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Apr 11, 2022 • 22min

Ômicron: todas as letras das subvariantes

Casos em alta nos EUA, em países da Europa e principalmente na China, onde os 26 milhões de habitantes de Xangai foram colocados em lockdown. Enquanto isso, o Brasil vive período de melhora nos indicadores e derrubada quase completa das restrições da pandemia, mas não está isolado do mundo. Há poucos dias, foi confirmado o primeiro caso entre nós de uma recombinação de linhagens da variante ômicron do coronavírus chamada XE, que já infectou mais de meio milhão de moradores do Reino Unido. Uma sigla nascida da mistura de outras duas (BA.1 e BA.2) e que tem como “irmãs” a XD e a XF. Mas não é preciso se assustar com a sopa de letras, nem decorá-las, garante Átila Iamarino. São apenas “várias versões da ômicron”, simplifica o biólogo e divulgador científico. Até aqui, nenhuma apresentou mudança significativa o bastante para tornar o vírus tão perigoso quanto já foi, desde que a pessoa esteja imunizada. Daí o imperativo, diz Átila, de fazer a vacinação avançar sem parar, além de seguir o bom senso na manutenção dos cuidados, especialmente para proteger os grupos mais vulneráveis. Na conversa com Renata Lo Prete, Átila analisa os fatores por trás do surto em cada um dos países mais afetados agora. E se mostra otimista quanto ao Brasil. Segundo ele, por “um motivo bom” (altas taxas de vacinação) “e outro ruim” (muitos casos de ômicron no início do ano), temos uma barreira mais sólida no momento.
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Apr 8, 2022 • 27min

Braga Netto: modos de Bolsonaro usar

Em seguidos eventos, o presidente da República vem renovando os ataques a ministros do Supremo e os sinais de que não pretende se conformar com uma eventual derrota nas urnas em outubro. Faz parte do pacote o aceno permanente aos militares - como na cerimônia recente em que qualificou o Ministério da Defesa como superior aos demais “por ter a tropa na mão”. É da Defesa, aliás, que Jair Bolsonaro retirou o general da reserva recém-filiado ao PL dado como certo no posto de vice da chapa. Walter Braga Netto seria “uma espécie de Hamilton Mourão, porém fiel e sem agenda ou cabeça própria”, nas palavras de Christian Lynch, professor no Instituto de Estudos Políticos e Sociais da UERJ. E ainda renovaria o seguro anti-impeachment do presidente - assim como o vice atual, é uma figura que o Congresso não se animaria a instalar no Palácio do Planalto. Na conversa com Renata Lo Prete, Lynch passa em revista a trajetória de Braga Neto, que foi interventor federal no Rio de Janeiro durante o mandato de Michel Temer e teve atuação para lá de questionada como coordenador, na Casa Civil, do enfrentamento da pandemia. O cientista político avalia que as ameaças de Bolsonaro vieram para ficar. “Precisa encenar o tempo todo que teria o poder de dar um golpe”, diz ele, que prevê alta instabilidade em caso de fracasso do projeto reeleitoral.

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