O Assunto

G1
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Apr 5, 2021 • 28min

Diplomacia sob Bolsonaro: terra arrasada

Os objetivos perenes de toda política externa cabem num enunciado simples, ensina o embaixador Marcos Azambuja, ex-secretário geral do Itamaraty e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais: “Se dar bem com os vizinhos, se dar bem com os fregueses e manter relação de confiança com o mundo”. Por qualquer um desses critérios, fracassou miseravelmente a gestão do chanceler Ernesto Araújo, que no entanto só chegou ao fim, após dois anos e três meses, porque empresários e o Congresso perderam a paciência com um fiasco em específico, o das negociações para obter vacinas contra a Covid-19. Em entrevista a Renata Lo Prete, Azambuja passa em revista diferentes aspectos do que chama de “erro sistêmico”, que considera menos “ideológico” do que resultado de “desatinos sem pé nem cabeça”. E alerta: a questão ambiental, principal fonte de descrédito do país no exterior, está longe de ser atacada, que dirá resolvida. Embora reconheça que o substituto de Araújo, Carlos Alberto França, foi escolhido sobretudo por ter caído nas graças da família presidencial, Azambuja vê chance de alguma correção de rumo. “A realidade dos fatos é irresistível”, diz. “No fim, é o que ganha”.
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Apr 1, 2021 • 22min

Colapso até para enterrar os mortos

A cada minuto dos últimos 7 dias, duas pessoas morreram de Covid no Brasil. Um ritmo do qual não dá conta nem o sistema funerário da maior cidade do país, dotada de uma rede de 22 cemitérios públicos. “Além de espaço, falta também estrutura física e material e até carros para levar os corpos”, relata o repórter da Globo César Galvão. Na conversa com Renata Lo Prete, ele conta como foi seu trabalho de acompanhar sepultamentos noturnos em São Paulo. E compartilha histórias como a de “um filho que disse que não conseguiu prestar uma última homenagem à mãe e ainda teve que enterrá-la no escuro”. Participa ainda deste episódio Lourival Panhozzi, presidente da Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário, que procura dimensionar a tragédia: “O número de mortes que estamos vendo só seria alcançado no Brasil, dentro da normalidade, em 2045”. O impacto, diz, atinge também quem trabalha no setor: “Sou funerário há 45 anos. Sempre vi famílias chorando nos velórios. Agora eu entro no velório e o que vejo é a minha equipe chorando”.
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Mar 31, 2021 • 27min

Os militares e Bolsonaro: e agora?

Primeiro o presidente demitiu o ministro da Defesa, alegando falta de apoio a ideias de exceção como decretar estado de sítio. Em resposta, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica tomaram a inédita iniciativa de entregar conjuntamente seus cargos. “Ficou mais difícil para Bolsonaro dar um golpe”, avalia o cientista político Octavio Amorim Neto, professor da FGV no Rio de Janeiro. Isso diante da sinalização, dada pelos generais do Alto Comando do Exército, de que a maior das três Forças Armadas não pretende embarcar em aventura golpista. O que não significa que Bolsonaro não irá tentar. Ou que inexistam ambiguidades na relação dos militares com um governo que vem lhes garantindo uma série de benefícios, explica Amorim. De todo modo, ele vê mais risco de adesão de policiais que de militares a uma eventual escalada autoritária. “Movimentos populistas de extrema-direita testam todas as instituições”, diz.
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Mar 30, 2021 • 31min

Bolsonaro contra-ataca

Acuado pelo desempenho desastroso na pandemia e, principalmente, por cobranças do Congresso, o presidente da República moveu, num único dia, seis peças no tabuleiro ministerial. Duas das trocas foram concessões aos parlamentares: a degola de Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e a ida da deputada Flavia Arruda (PL-DF) para a Secretaria de Governo. Todas as outras atendem a um único propósito: “blindagem”, resume na conversa com Renata Lo Prete a jornalista Vera Magalhães (de O Globo, rádio CBN e TV Cultura). Neste episódio, Renata e Vera passam as mudanças em revista, com destaque para a demissão do general Fernando Azevedo e Silva da pasta da Defesa - e o que esperar agora dos comandantes das Forças Armadas. Saíram, enfatiza Vera, “ministros que não topam fazer tudo o que Bolsonaro pedir”, notadamente iniciativas que afrontem a Constituição. E entraram, além dos que topam, mais amigos da família - como o novo titular da Justiça, o delegado da PF Anderson Torres. A conversa inclui também análise da tentativa de deputados bolsonaristas de estimular insubordinação da PM da Bahia, a partir de incidente ocorrido no domingo.
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Mar 29, 2021 • 25min

Na pior hora, doações despencam

Quando o vírus chegou ao Brasil e tudo fechou de repente, a resposta solidária de pessoas físicas e jurídicas foi gigante: nos primeiros três meses, somou mais de R$ 6 bilhões. Mas o tempo passou. As curvas de casos e de mortes deram algum alívio, o auxílio emergencial garantiu o básico a dezenas de milhões de pessoas, e a arrecadação de alimentos e outros produtos básicos entrou em queda livre. Hoje, com a pandemia em momento catastrófico, a crise econômica aprofundada e o auxílio (mais magro) ainda sem dia para voltar, entidades e organizações de apoio aos mais carentes lançam um grito de alerta. “Estou vendo muita gente na política pensando em 2022. Só que antes temos que atravessar 2021”, diz Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas, a Cufa. Em entrevista a Renata Lo Prete, ele dá a real sobre o avançado estágio de insegurança alimentar nas comunidades. “Estamos vendo nas redes sociais gente vendendo pertences para ter o que comer”, conta. E cita dados de levantamento recente: quase 80% dos moradores de favela afirmam que faltou dinheiro para comprar comida nos últimos 15 dias. Participa também do episódio Ana Paula Campos, repórter da Globo em São Paulo. Ela relata histórias de necessidade extrema em favelas da maior cidade do país. “Só não falta tudo porque o vizinho divide o pouco que tem”, conta. Preto Zezé conclui: “Se as pessoas têm que ver seus filhos chorando de fome, é a declaração do caos total. E aí é a nossa falência como sociedade e como nação”.
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Mar 26, 2021 • 25min

Por que a vacinação patina na Europa

Em julho de 2020, os 27 países da União Europeia negociaram de forma conjunta a aquisição de imunizantes contra a Covid-19. As compras foram feitas, mas a distribuição avança em marcha lentíssima: até agora, menos de 15% da população adulta do bloco foi vacinada. Enquanto isso, no vizinho Reino Unido, o percentual se aproxima de 50%. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa com a jornalista Cecília Malan, correspondente da Globo em Londres, e com a médica Sue Ann Clemens, chefe do Instituto para Saúde Global da Universidade de Siena e coordenadora dos estudos da vacina de Oxford no Brasil. Cecília descreve um “conto de duas realidades distintas”, uma da UE, outra dos britânicos. E detalha as tensões diplomáticas que podem resultar em bloqueio de exportação de vacinas e de insumos para produzi-las. Sue Ann explica as consequências da interrupção das campanhas, vista em vários países europeus. “O primeiro impacto é em hospitalizações e mortes. O segundo, na adesão à vacina”, afirma. Ela tem uma palavra de alívio para os brasileiros: não acredita que as ameaças de bloqueio venham a interferir no fluxo de doses para nós.
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Mar 25, 2021 • 24min

300 mil mortos: a despedida possível

No momento em que o Brasil cruza essa marca terrível, familiares de vítimas da Covid-19 compartilham com O Assunto as mensagens de celular que se revelaram o derradeiro meio de contato com mães, pais e filhos isolados nas UTIs. Declarações de amor, palavras de encorajamento, diálogos sobre cenas do cotidiano, como tirar a roupa do varal e pedir pizza: tudo registrado na tela e agora convertido em última lembrança. Na outra ponta dessa correspondência estavam doentes como os que o médico intensivista Daniel Neves Forte acompanha há um ano no Hospital Sírio Libanês, onde gerencia o setor de Humanização. "É um rolo compressor. A gente está vivendo uma tragédia”, resume na entrevista a Renata Lo Prete. “Com uma carga de trabalho brutal, é fácil desumanizar: numerar os pacientes e só cuidar do corpo que está ali. Desumanizar para manter o paciente vivo, isso é muito desgastante. E se desconecta do propósito da profissão”, reflete. Forte acredita que a dificuldade de elaborar o luto nessas condições não é apenas individual, mas também do país, principalmente em razão do comportamento do governo federal desde o início da pandemia. Sem reconhecer toda a extensão do que nos aconteceu não é possível ter, nas palavras do médico, a “esperança da reconstrução”.
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Mar 24, 2021 • 24min

Covid grave entre os jovens

“Não pude dar um abraço. Nem de me despedir tive direito”. Quem conta é Maria de Jesus, que perdeu o único filho, de 22 anos, para a Covid-19. Renan Ribeiro Cardoso administrava a pequena pizzaria da família, na zona leste de São Paulo, e era figura querida na vizinhança. Foi a primeira pessoa a morrer na fila por um leito de UTI na maior cidade do país. Sua saga em vão por atendimento ocorreu num momento em que mais jovens estão se contaminando e, não raro, desenvolvendo formas agressivas da doença. Este episódio traz, além do relato dilacerante de Maria, entrevista de Renata Lo Prete com Ana Freitas Ribeiro, coordenadora do serviço epidemiológico do Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas. “Entre os casos graves, ainda há predomínio de maiores de 60 anos, mas o volume de contaminações entre os mais jovens aumentou bastante”, diz a médica. Ela sugere duas explicações: livre circulação e maior transmissibilidade da variante brasileira, a P1. “É um momento delicado: muitos casos e poucos leitos”. Diante disso, ela recomenda aos jovens, que serão os últimos a se vacinar, a manter todo o distanciamento possível.
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Mar 23, 2021 • 26min

O manifesto dos economistas

Ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes do Banco Central, economistas de variadas posições no espectro ideológico, empresários: são mais de 500 assinaturas na carta aberta que cobra do governo Bolsonaro um conjunto de providências para finalmente enfrentar a catástrofe sanitária. “No grupo há críticos de partida do governo, outros que de início acreditaram, outros que tinham medo de se manifestar”, diz o economista Pérsio Arida, um dos signatários e entrevistado de Renata Lo Prete neste episódio. “O denominador comum é o desespero diante da inércia do governo.” E por que lançar o documento agora? “A incompetência supera as expectativas de todos. É incompetência mesmo, falta de noção da realidade, falta de contato com o mundo. E isso perpassa o governo como um todo”, responde Arida, ex-presidente do BC, do BNDES e do Banco do Brasil. O manifesto prioriza quatro reivindicações: acelerar a vacinação, incentivar o uso de máscaras, implementar medidas de distanciamento social e criar mecanismos de combate. Tudo isso com algo que não tivemos até agora: coordenação nacional. Arida fala do egoísmo de quem acreditou ser possível implantar uma pauta reformista na economia (que jamais se concretizou) em meio a retrocessos de toda ordem nas questões da cidadania. “Se o governo fosse racional, daria meia volta. Ou se tornará impotente e perderá de vez sua legitimidade”, conclui.
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Mar 22, 2021 • 27min

Comida cara, tensão social em alta

A disparada dos preços dos alimentos é fenômeno global, explicado, em boa medida, pelo estrago que a pandemia produziu nas cadeias de produção. No passado, ciclos como o que vemos agora fomentaram distúrbios e disrupção, alerta o sociólogo José Eustáquio Diniz Alves, mestre em economia e doutor em demografia. Um dos convidados deste episódio, ele cita os exemplos da Primavera Árabe, no início da década passada, e da Guerra da Síria, que acaba de completar 10 anos. Se o quadro geral preocupa, que dirá o do Brasil, diz Eustáquio, citando às avessas o verso de Gilberto Gil: “O pior lugar do mundo é aqui e agora”. Ele se refere ao fato de sermos o epicentro da crise sanitária, com vacinação ainda incipiente, auxílio emergencial interrompido e desemprego nas alturas. Para se aprofundar na situação brasileira, Renata Lo Prete entrevista a jornalista Nathalia Tavoliere, do Profissão Repórter, que acompanhou de perto a luta de famílias de São Paulo, Pernambuco e Paraíba para colocar comida na mesa. Muitas trabalham em lixões. “Me impressionou ver as pessoas pegando alimentos estragados”, conta, e depois “rezando pra não fazer mal”. Lembrando de outras reportagens que já fez sobre o tema, Nathalia relata uma mudança de comportamento: antes, era comum que as pessoas sentissem vergonha de admitir que estavam passando fome. Agora não mais. “É o desespero”. Um cenário que Eustáquio descreve assim: “Precisa só de uma centelha, estamos em um barril de pólvora”.

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