O Assunto

G1
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Dec 31, 2021 • 24min

REPRISE: Em busca das árvores gigantes da Amazônia

Elas se erguem muito acima da média do dossel da floresta. Como conseguem crescer tanto e não quebrar é algo que sempre intrigou estudiosos. Em outubro, quatro guias e quatro engenheiros florestais partiram da pequena Cupixi, na região central do Estado do Amapá, e se embrenharam durante três dias no rio e na mata com o objetivo de chegar à segunda mais alta já identificada pelos radares do Inpe: um angelim vermelho de 85 metros, marca que o faz superar um prédio de 30 andares ou duas vezes a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Concluída a expedição – na qual equipe de cientistas captou áudios especialmente para o episódio do podcast que O Assunto reprisa neste 31 de dezembro – o professor Diego Armando Silva conversou com Renata Lo Prete a respeito da importância do projeto que coordena. "As árvores gigantes são as mães da floresta", diz. “Além de resistir ao vento, à luz e às tempestades, elas precisam sustentar o próprio peso". A observação de perto, o inventário e a coleta de informações nos ensinam não apenas sobre elas, mas sobre “a estrutura da floresta”. E ele não tem dúvida: ainda há muitas gigantes por mapear e conhecer na Amazônia.
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Dec 30, 2021 • 25min

REPRISE: Brasileiros sem documento - os verdadeiros invisíveis

Segundo o último dado oficial disponível, são cerca de 3 milhões de pessoas que, como Maria Helena Ferreira da Silva, chegam à vida adulta (e eventualmente à idade avançada) sem certidão de nascimento: um problema nacional que foi tema da redação do Enem neste ano e do episódio que O Assunto reprisa neste 30 de dezembro. No caso da agricultora de 70 anos, que vive no interior do Paraná, a carência virou barreira na hora de se vacinar contra a Covid-19. No posto, recomendaram-lhe que se conformasse em ficar sem o imunizante, “porque o governo nem sabia que eu existia”. Ela só veio a receber a primeira dose meses depois, por ação da Defensoria Pública, e agora está perto de conseguir a tão sonhada certidão de nascimento. “A gente fica envergonhado, né?” O relato feito por Maria Helena ao podcast introduziu a conversa entre Renata Lo Prete com Fernanda da Escóssia, autora do livro "Invisíveis - Uma Etnografia sobre Brasileiros sem Documento", fruto da tese de doutorado da jornalista na Fundação Getúlio Vargas. Ela explica o papel fundador desse registro e o efeito bola de neve que a ausência dele provoca: vai ficando mais difícil obter outros documentos e, com o passar dos anos, limitações muitos concretas se apresentam, notadamente no acesso aos serviços públicos de educação e saúde. Editora na revista Piauí, com longas passagens pelos jornais O Globo e Folha de S. Paulo, Fernanda se interessa há quase duas décadas por um fenômeno que descreve como “transversal”, porque ligado a múltiplos fatores, como miséria e desestruturação familiar. Em sua pesquisa e nesta entrevista, ela conta histórias de pessoas que conheceu no momento em que buscavam o registro de nascimento e reencontrou tempos depois -- quando haviam resgatado direitos, cidadania e às vezes o próprio "fio da vida".
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Dec 29, 2021 • 28min

REPRISE: Fogo na Cinemateca - memória destruída

“Todo mundo sabia que ia acontecer. E aconteceu", diz o diretor Cacá Diegues sobre o processo crônico de negligência e asfixia de recursos que culminou no incêndio do galpão na Vila Leopoldina, em São Paulo, em 29 de julho deste ano. O fogo destruiu cerca de um milhão de documentos que registravam décadas da produção audiovisual brasileira, entre trabalhos de artistas de renome e de anônimos, e que contavam a história do país. O descaso vem de longe, mas o desejo de extermínio é recente, diferencia Cacá, integrante da Academia Brasileira de Letras “Não é que o atual governo não se interesse pelo cinema. Ele é contra o cinema, contra a cultura e não quer que o Brasil exista”. Na conversa com Renata Lo Prete, que O Assunto reprisa neste 29 de dezembro, o diretor reflete sobre o significado de seu “Bye Bye Brasil”. O filme, que no ano 1 da pandemia completou quatro décadas, aborda temas para lá de atuais, como destruição ambiental e aniquilação de povos indígenas. A despeito das dificuldades, Cacá continua a criar e mantém a esperança de que ninguém conseguirá matar o cinema brasileiro. E afirma que sem a arte “você corta a possibilidade de o país se organizar e ser alguma coisa".
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Dec 28, 2021 • 33min

REPRISE: Simone Biles - saúde mental primeiro

A maior ginasta de todos os tempos chegou aos Jogos Olímpicos sob pressão para ampliar sua lista de medalhas. Já em Tóquio, a atleta revelou que passava por uma espécie de bloqueio ao saltar e desistiu de quatro finais olímpicas para priorizar o cuidado com sua saúde mental – e abriu um debate que rompeu as fronteiras do esporte. No episódio que O Assunto reprisa neste 28 de dezembro, Renata Lo Prete recebe dois convidados: o ex-repórter da Globo Marcos Uchoa e a doutora em psicologia pela USP Vera Iaconelli. “O que ela faz ninguém mais é capaz de fazer”, resume Uchoa sobre o fenômeno Biles. Ele, que cobre Olimpíadas há mais de três décadas, descreve o estresse a que são submetidos desde muito cedo os atletas de alta performance, especialmente na ginástica. “Há uma deformação da infância e da adolescência", diz. Vera, que também é diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, analisa o caso da ginasta sob o aspecto da “relação com os nossos desejos". Ela questiona a caracterização do gesto da atleta como “um problema”, e pondera: “Saúde mental é poder dizer não a certas coisas que não são aceitáveis. E não tentar loucamente se adaptar a elas".
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Dec 27, 2021 • 25min

REPRISE: Militares de novo no poder: as origens

Primeiro, eles saíram dos quartéis para o front internacional em missões de grande visibilidade, notadamente a do Haiti. Depois, foram chamados a atuar em segurança pública interna, numa escalada de operações que culminou com a intervenção de 2018 no Rio de Janeiro. Logo depois da eleição de Jair Bolsonaro, o então comandante do Exército, Eduardo Villas-Bôas, qualificou como “volta à normalidade” a atuação de quadros das Forças Armadas em áreas de natureza civil da administração federal -hoje em patamar sem precedentes. “Este é um governo de militares", afirma Natália Viana, autora do livro “Dano Colateral”, um dos mais importantes lançamentos de 2021, tema do episódio que O Assunto reprisa neste 27 de dezembro. No momento em que eles disputam terreno com políticos do Centrão -e recebem a conta do desempenho desastroso na pandemia-, a jornalista resgata o capítulo inaugural dessa história. Mostra, com apuração minuciosa, a opacidade de informações e a impunidade de atos cometidos, em especial no Rio. E constata que “a democracia já está rota” quando um general (Braga Netto, ministro da Defesa) se sente à vontade para ameaçar ninguém menos do que o presidente da Câmara com a ruptura do calendário eleitoral. “Eles entraram na política e não pretendem se retirar”.
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Dec 24, 2021 • 21min

REPRISE: O vale-tudo das “narrativas”

O dicionário diz que se trata da “exposição de uma série de acontecimentos mais ou menos encadeados”. Na política, porém, a palavra se perdeu numa epidemia de usos equivocados, quase sempre voltados ao diversionismo e à tentativa de ocultar verdades inconvenientes. No episódio que O Assunto reprisa neste 24 de dezembro, o apelo incessante à carta da “narrativa”, notadamente pelos bolsonaristas na CPI da Covid, compõe a trilha sonora da conversa de Renata Lo Prete com o jornalista Eugênio Bucci, professor da Universidade de São Paulo e autor do livro “A Superindústria do Imaginário”. Eugênio resgata o sentido original do termo -em diferentes mitologias, na literatura e no jornalismo. Passa por transformações ligadas à lógica dos mercados e chega às fake news, um território onde “a verdade não pesa”. Para ele, abster-se de responder pelos fatos é o "objetivo final dessa discurseira vazia e histérica".
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Dec 23, 2021 • 20min

O Orçamento capturado de 2022

A peça aprovada pelos parlamentares evidencia o que os especialistas vinham apontando: menos de metade do “espaço” de R$ 113 bilhões criado com a aprovação da PEC dos Precatórios irá para o novo programa social do governo. “Não houve, de fato, preocupação em reforçar o Auxílio Brasil”, observa Adriana Fernandes, repórter especial e colunista do jornal O Estado de S. Paulo. Em compensação houve, ela explica, ampla e bem-sucedida preocupação em contemplar os interesses do presidente Jair Bolsonaro (como R$ 1,7 bilhão para dar reajuste a policiais federais, deflagrando a ira de outras categorias do funcionalismo) e de deputados e senadores (caso dos R$ 16,5 bilhões para emendas do relator, que seguirão quase tão secretas quanto antes). Na conversa com Renata Lo Prete, Adriana também descreve as idas e vindas que resultaram num Fundo Eleitoral de quase R$ 5 bilhões, a baixa no volume de recursos para investimento e a primazia dada à Defesa sobre pastas como Saúde e Educação. A jornalista destaca ainda o caráter simbólico das ausências de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, de Brasília quando da aprovação: “Quem realmente está mandando no Orçamento é o Congresso”.
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Dec 22, 2021 • 27min

Lula: chapa, pesquisas e mais sobre 2022

O ano termina com o petista na liderança isolada das intenções de voto para a Presidência, enquanto negocia uma composição que, até recentemente, poucos sequer imaginariam, com o ex-governador Geraldo Alckmin, recém-saído do PSDB. Se concretizada, será “a aliança do establishment político da Nova República”, diz o cientista político Miguel Lago, que leciona na Universidade Columbia, em Nova York, e na Sciences Po, em Paris. Daí vem sua força e, segundo ele, também seu calcanhar de Aquiles, que Jair Bolsonaro tentará explorar. Na conversa com Renata Lo Prete, Lago analisa movimentos e falas de Lula. Reconhece que nenhum outro candidato desperta tanto no eleitorado pobre, amplamente majoritário no Brasil, a lembrança de dias melhores, mas pondera que o país mudou bastante desde os dois mandatos do ex-presidente. Ele cita dois exemplos: o trabalho formal encolheu para dar lugar ao chamado “precariado”, e a religião ganhou peso no debate e nas definições de perfil. A dicotomia, afirma o professor, agora se dá entre “batalhadores” e “encostados”, estes últimos bem representados, segundo ele, pela família Bolsonaro. “São milionários e nunca fizeram nada".
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Dec 21, 2021 • 23min

Chile: a esquerda no poder

Ao final do primeiro turno, muitos previam disputa acirrada e até mesmo favoritismo do candidato da extrema-direita. Porém, encerrada a apuração da etapa final, o ex-líder estudantil Gabriel Boric emergiu vencedor com mais de dez pontos percentuais de vantagem sobre José Antonio Kast. “Era preciso atrair o eleitor do centro. E Boric soube fazer isso melhor do que Kast”, afirma Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV. Na conversa com Renata Lo Prete, ele analisa a sucessão de eventos inaugurada no país com os protestos de 2011, até chegar à Assembleia Constituinte e, agora, à eleição do primeiro presidente que não saiu de nenhuma das duas coalizões que se alternaram no poder desde o fim da ditadura do general Pinochet, em 1990. “É preciso ter cuidado com as expectativas”, pondera Stuenkel. O jovem eleito (35 anos) terá que lidar não apenas com um Congresso dividido, mas com reticências em sua própria aliança. “O Partido Comunista está distante”, diz. Mais importante: num cenário de inflação e fim dos auxílios da pandemia, precisará enfrentar a desigualdade econômica e social que inflamou as ruas. Sem desconsiderar o histórico recente de resultados eleitorais da América Latina, o professor matiza: “Boric é uma outra esquerda, mais parecida com partidos progressistas da Europa. Um fenômeno típico chileno, difícil de imaginar em países como Paraguai, México ou o próprio Brasil”.
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Dec 20, 2021 • 24min

Pandemia: o que esperar do ano 3

Ao fim de 2020, o trauma de meses dificílimos cedeu lugar à euforia com o início da vacinação. De fato, onde ela avançou mais, o quadro melhorou bastante. Mas a desigualdade na aplicação contrapõe países com mais de 80% da população completamente imunizada a outros, quase sempre pobres, nos quais o percentual não chega a 10%. “Mais do que um imperativo ético e moral, o acesso equitativo às vacinas ainda é a melhor resposta à pandemia”, afirma Jarbas Barbosa, vice-diretor da Opas, braço da OMS nas Américas. Isso porque somente o controle da transmissão do vírus poderá impedir o surgimento sem fim de variantes de preocupação. A ômicron, mais recente delas, embaralhou todos os prognósticos para 2022, ao combinar manifestações aparentemente menos graves da doença à maior transmissibilidade vista até aqui. “Mesmo países com sistemas de saúde fortes poderão enfrentar problemas”. Em entrevista a Renata Lo Prete, o médico brasileiro analisa estudos preliminares sobre a ômicron e a necessidade das doses de reforço. E lança um olhar esperançoso sobre o futuro: “Se tivermos vigilância genômica funcionando, mantivermos a adesão da população às recomendações de saúde pública e avanço da vacinação, acredito que possamos chegar ao final de 2022 com perspectiva de controle”.

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