O Assunto

G1
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Dec 17, 2021 • 23min

Gripe fora de época se espalha no Brasil

Os primeiros sinais surgiram na UPA da Rocinha, onde explodiu o número de pacientes com queixas respiratórias. Alguns dos sintomas se assemelhavam aos da Covid, mas testes deram outra resposta: influenza. E uma variante diferente, a Darwin, que predominou no hemisfério norte no início de 2021 e agora, atipicamente longe do inverno, ganha terreno por aqui. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa com Marcelo Gomes, coordenador do Boletim Infogripe, da Fiocruz. O pesquisador em saúde pública explica a piora do quadro, notadamente no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, onde a doença já adquiriu caráter epidêmico, com espalhamento dos casos. Cidades como São Paulo, Salvador, Belém e Manaus também enfrentam surtos, com sobrecarga de seus hospitais e postos. “Infelizmente, a perspectiva para as próximas semanas é de mais ocorrências”, diz Marcelo. Ele cita entre os motivos a “queda na cobertura vacinal deste ano” no Brasil. Ainda que o imunizante disponível não proteja contra a variante H3N2, ele não tem dúvida em recomendar que especialmente os segmentos mais vulneráveis da população tomem a vacina. Para prevenção, as recomendações são as mesmas dos últimos dois anos: usar máscaras de boa qualidade e sempre, preferir lugares abertos e evitar aglomerações.
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Dec 16, 2021 • 23min

Violência obstétrica: como se proteger

O relato da influenciadora digital Shantal Verdelho sobre abusos sofridos durante o nascimento de sua filha em um hospital privado paulistano evidenciou um drama silenciado por longo tempo e que atinge uma legião de mulheres no país. Um tipo de violência que pode ocorrer no atendimento pré-natal, no parto ou depois dele, e se manifestar em intervenções cirúrgicas (realizadas sem consentimento ou mesmo à revelia da paciente) e assédio moral (por meio de gritos e ofensas), explica a jornalista Giovanna Balogh, especialista em temas ligados à maternidade e à infância. “Os profissionais da saúde não querem cometer violência, mas reproduzem condutas que aprenderam, estão desatualizados ou são insensíveis ao fato de haver uma mulher atrás daquela vagina”. A ginecologista e obstetra Larissa de Freitas Flosi, do coletivo Nascer, enxerga o momento histórico em que o trabalho de parto saiu maciçamente do ambiente familiar, entre as décadas de 1950 e 1960, como uma espécie de marco zero desses casos. “Virou um evento médico”, que ocorre “no momento de maior vulnerabilidade física e emocional” da mulher e envolve traços da sociedade como machismo, racismo e preconceito de classe. A médica afirma que a assistência obstétrica precisa ser baseada em dois pilares: ciência e autonomia da mulher. Para a gestante, o mais importante é ter informação de qualidade. “É o melhor item do enxoval”.
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Dec 15, 2021 • 24min

O desmanche das decisões da Lava Jato

Na largada, em março de 2014, a operação investigava lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A partir daí vieram as descobertas de malfeitos bilionários, relacionados sobretudo à Petrobras, e a prisão de representantes da elite empresarial e política. Numa sucessão espetacular de fases, a Lava Jato conquistou grande apoio popular, mas não sem danos colaterais. Excessos cometidos pelos investigadores passaram a ser questionados pelo Judiciário: hoje, nas cortes superiores, condenações em série são revertidas, e pilares da operação, derrubados. “A decisão do STF de deixar na vara de Curitiba apenas casos relativos à Petrobras foi um divisor de águas”, afirma Marco Aurélio de Carvalho, integrante do Grupo Prerrogativas. Assim como, no entender dele, a de remeter à Justiça Eleitoral casos de crimes comuns relacionados a caixa dois. Tudo isso, acredita Marco Aurélio, faz parte de um processo de depuração e restabelecimento de marcos institucionais, no qual ele inclui ainda a declaração de suspeição de Sergio Moro para julgar o ex-presidente Lula. Neste episódio, Renata Lo Prete recebe também Raquel Pimenta, professora de direito na FGV. Ela, que estuda corrupção e poder econômico, analisa erros e acertos no uso, pela Lava Jato, de instrumentos como delações premiadas e acordos de leniência.
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Dec 14, 2021 • 26min

Os evangélicos e seu espaço no Judiciário

Logo no início do mandato, Jair Bolsonaro prometeu que levaria ao STF um nome “terrivelmente evangélico”. André Mendonça foi o segundo escolhido pelo presidente (depois de Nunes Marques), mas não corresponde exatamente ao perfil. “Ele é, na verdade, um conservador moderado”, define a socióloga Christina Vital da Cunha, “que inclusive já apoiou governos à esquerda”. Em entrevista a Renata Lo Prete, a professora da Universidade Federal Fluminense, também colaboradora do Instituto de Estudos da Religião, explica que o interesse de grupos religiosos pelo Judiciário é anterior ao atual governo e vai além dos evangélicos. Em sua origem está a dificuldade de fazer avançar, via Legislativo, determinados pontos da agenda conservadora. E a necessidade de se contrapor ao que consideram “ativismo do Judiciário”, sobretudo em pautas comportamentais. Christina recorda a entrevista que fez em 2014 com o então candidato à Presidência Pastor Everaldo (PSC), na qual ele reconhecia que o projeto era “trocar a cabeça”, com a finalidade de indicar ministros afinados com os interesses de seu grupo. O alinhamento de muitas lideranças evangélicas com o bolsonarismo se deu ainda no discurso anticorrupção que prevaleceu nas eleições de 2018 -mesma pauta que “agora motiva o rompimento” de parte do segmento com o presidente. Essa é uma das razões, acredita, pelas quais o eleitorado evangélico pode chegar a 2022 fragmentado entre a reeleição de Bolsonaro, a nostalgia dos tempos de prosperidade de Lula e o apelo lavajatista de Sergio Moro. Um racha que o presidente terá de enfrentar também diante da base parlamentar e ativista que empurrou Mendonça até a aprovação pelo Senado - onde a indicação ficou quatro meses parada e enfrentou expressiva resistência. “Se ele atuar conforme o interesse dos grupos que realmente o apoiaram, entrará em choque com Bolsonaro, inevitavelmente”.
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Dec 13, 2021 • 25min

Natal com fome: como ajudar quem precisa

O ano 2 da pandemia agravou uma situação que já era a de milhões de brasileiros em 2020: insegurança alimentar. Ao longo de 2021, a demanda por doações cresceu 30%, enquanto o volume caiu 20%. Uma realidade que Renata Alves, uma das responsáveis pelas ações de enfrentamento à Covid na favela paulistana de Paraisópolis, define como “perturbadora”. Ela relata que a crise tem levado pessoas a buscar comida até em Unidades Básicas de Saúde. Para Daniel Souza, presidente do conselho da ONG Ação da Cidadania, o quadro resulta do “desmonte criminoso das políticas públicas” em anos recentes. Por maior que seja o imperativo da solidariedade, “é só por meio delas que poderemos sair novamente do mapa da fome”, afirma. A terceira entrevista de Renata Lo Prete é com Preto Zezé. O presidente da Central Única das Favelas mostra como o empobrecimento atinge parcelas da sociedade antes relativamente protegidas -resultando no aumento da população de rua e em mais de 20 milhões de brasileiros sem alimentação básica. Para responder a essa tragédia, ele espera promover uma mobilização “mais contagiosa do que o próprio vírus”. A exemplo do que viu acontecer com mães de Fortaleza: em uma ação na capital cearense, havia 50 cartões no valor de R$ 120 reais para distribuir entre essas mulheres; no entanto, 100 apareceram. Então, as primeiras 50 da fila compartilharam o dinheiro com as demais. “Elas fizeram isso não só em um momento difícil do Brasil, mas no pior momento”. O episódio traz indicações de como doar para organizações de ajuda atuantes em todo o Brasil.
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Dec 10, 2021 • 25min

Capes: a crise na pós-graduação

De setembro a dezembro deste ano, por força de uma decisão judicial, centenas de pesquisadores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior não puderam executar a avaliação de cursos de mestrado e doutorado. Muitos deles responsabilizam a presidência do órgão, ligado ao Ministério da Educação, que não teria recorrido a instâncias superiores com a devida celeridade para reverter esse quadro. Em meio a esse impasse, e diante de uma série de outras denúncias, pelo menos 114 pesquisadores de quatro áreas deixaram a Capes, em movimento inédito. Renata Lo Prete recebe o ex-ministro da Educação e ex-diretor da Capes, Renato Janine Ribeiro, e a repórter do jornal O Globo Paula Ferreira para explicar a questão. Paula apresenta os argumentos dos pesquisadores, segundo os quais a pós-graduação no Brasil “não é mais política de Estado”. Eles apontam ainda falta de diretrizes e de consultas aos técnicos - a presidente da Capes, terceira a ocupar o cargo no governo Bolsonaro, rejeita todas as acusações. Renato lembra que, na produção científica brasileira, "a base de tudo é a avaliação”, um trabalho “barato”, que custa ao governo apenas as despesas dos avaliadores. Para explicar a importância da Capes, Janine lembra que quase toda a ciência no Brasil é feita na pós-graduação. Assim como em outras áreas, ele reforça que, para a ciência, é fundamental ter um plano "que diga quais são as prioridades para o futuro".
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Dec 9, 2021 • 24min

Ucrânia: vai ter invasão da Rússia?

Até meados de novembro, o serviço ucraniano de inteligência estimava em 90 mil os soldados russos deslocados para a fronteira entre os dois países. Os Estados Unidos sugerem que pode ser o dobro, no que enxergam como preparativos para uma ofensiva a partir de janeiro. E ameaçam impor novas sanções a um velho adversário, que por sua vez insinua disposição de pagar para ver. Na perspectiva da Rússia, é a Otan (aliança liderada pelos EUA) que pretende cruzar a “linha vermelha” tentando atrair para seus quadros a mais estratégica das ex-repúblicas soviéticas. Para analisar essa reencenação da Guerra Fria, motivo de teleconferência na terça-feira entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin, Renata Lo Prete recebe Guga Chacra. O comentarista da Globo em Nova York começa por lembrar que “a Ucrânia faz parte do sentimento de nação dos russos” desde o tempo dos czares e que isso não mudou depois do fim da URSS, em 1991. Para explicar a tensão atual, ele resgata o capítulo anterior, ocorrido em 2014, quando um movimento de inflexão pró-ocidente na Ucrânia terminou com a anexação, pela Rússia, da península da Crimeia. Assim como há sete anos, diz Guga, os americanos não pretendem e dificilmente teriam condições de avançar sobre a vizinhança de Putin. Com outros problemas para resolver, Biden espera, no máximo, manter influência e “uma certa estabilidade na Europa”. Quanto a Putin, embora esteja promovendo a maior mobilização de contingente militar no Leste Europeu em décadas, ainda é cedo para cravar se pretende ir até o fim.
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Dec 8, 2021 • 23min

O aparelhamento da Polícia Federal

Desde o início do mandato, o presidente da República é claro sobre seu projeto de subordinação. Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, prometeu trocar o diretor-geral e o ministro da Justiça, se necessário - e assim o fez. “Não estamos aqui para brincadeira”, sentenciou no evento. Desde então, acelerou-se o “processo de tomada da PF pelo bolsonarismo”, como define Allan de Abreu, repórter da revista Piauí. Em conversa com Renata Lo Prete, ele descreve as conexões políticas que levaram ao cargo o atual “DG”, Paulo Gustavo Maiurino, conhecido por subordinados como “delegado de cativeiro”, devido à pouca experiência em investigações. O jornalista observa que, ao decretar o fim do “segredismo” na corporação, durante evento interno em maio, Maiurino estava na verdade escancarando a diretriz de tornar a PF uma “polícia política” nas mãos do presidente. O jornalista recorda outras trocas nas quais “gente de confiança” do Executivo assumiu posições de diretoria ou superintendência portando “currículos não tão auspiciosos” e cita especialmente a perseguição ao delegado Felipe Leal - que, depois de investigar afastamentos suspeitos de colegas, acabou ele mesmo sendo retirado do inquérito que apura a interferência de Bolsonaro na PF. Renata e Allan traçam o histórico de conquista de autonomia e protagonismo da corporação a partir dos anos 2000. “Agora é o oposto”, compara Allan. “Uma delegada me disse: aquilo que a instituição demorou anos para construir foi destruído em meses”.
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Dec 7, 2021 • 23min

Por que é preciso exigir passaporte vacinal

A recomendação da Anvisa, emitida há quase um mês, é direta quanto à necessidade de impedir o acesso ao Brasil de viajantes não imunizados contra a Covid. Em suas notas técnicas, a agência pondera que esse é um movimento global diante do aumento no número de casos e da emergência da variante ômicron, mais transmissível. Em entrevista a Renata Lo Prete, a jornalista Isabela Camargo, repórter da GloboNews em Brasília, observa que a atitude da Anvisa foi apoiada por Estados e municípios, além de reiterada pelo Tribunal de Contas da União. Mas nada disso basta num caso que envolve fronteiras nacionais, lembra a jornalista: “só uma portaria do governo federal pode estabelecer a exigência do passaporte da vacina”. E, diante da ostensiva oposição de Jair Bolsonaro, até uma reunião interministerial para tratar do tema foi cancelada nesta segunda-feira -pouco depois de o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso cobrar uma posição do Executivo em até 48 horas. Para Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas, esse comprovante e o de testagem são fundamentais para proteger os brasileiros da ômicron. “Ela é quase outro vírus, se comparada a variantes anteriores”, afirma. “E o problema é que outras virão”. A médica cita o caso da febre amarela, cuja vacina é exigida há décadas por pelo menos 100 países, como exemplo de que “a liberdade individual deve ser limitada quando tem impacto no bem coletivo”. E reforça que, para a segurança do país, não bastam ações de administradores locais: “é necessário o governo federal” agir.
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Dec 6, 2021 • 25min

Alemanha: na 4ª onda e sob nova direção

Depois de 16 anos, a era Merkel deve chegar ao fim nesta quarta-feira, quando o Parlamento se reunir e confirmar Olaf Scholz como chanceler. De cara, às portas do inverno, o social-democrata terá de enfrentar o arrefecimento da pandemia - e a resistência de parte da população a se vacinar. Isso será “prioridade absoluta do novo governo”, afirma Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP. Angela Merkel e seu sucessor vêm trabalhando juntos em medidas nessa área. Depois da transição, no entanto, conflitos em torno de temas menos consensuais podem emergir. Afinal, a coalizão formada é a primeira, desde a metade do século passado, a abrigar três partidos distintos e “ideologicamente bem diferentes” (verdes e liberais completam o trio). “São parceiros pouco naturais, e isso vai produzir muito debate”, sobretudo a respeito da sempre adiada reforma do sistema previdenciário. Entre as concordâncias, ele aponta investimento na transição para uma economia mais verde - o que, prevê o professor, ameaça colocar mais pressão nas tratativas da União Europeia com o Brasil. Na conversa com Renata Lo Prete, Kai também analisa o longo período Merkel. Segundo ele, a cientista que se tornou uma das políticas mais influentes do mundo “encarnou muito bem” a estabilidade que a Alemanha buscava e conseguiu alcançar, mesmo diante de sucessivas turbulências globais. A democracia-cristã de Merkel foi derrotada nas urnas, mas a chanceler sai de cena com alta popularidade. “Ela tem perfil cauteloso, mas, quando a oportunidade se apresenta, ela pega”, resume. “E esse jeito frio de lidar com as crises conquistou os alemães”.

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