O Assunto

G1
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Jan 14, 2022 • 25min

A falta de exames e o autoteste para Covid

Desde as últimas semanas de 2021, a demanda por diagnóstico cresceu como há muito não se via. Resultado, afirmam especialistas, de uma “tempestade perfeita” que atingiu o Brasil: um mix de festas de fim de ano, contágio acelerado da variante ômicron, surto de casos de gripe H3N2 e descuido nas medidas não farmacológicas de contenção do vírus. Neste episódio, a jornalista Ana Carolina Moreno, repórter de dados da Globo em São Paulo, conta como a procura por testes subiu quatro vezes desde novembro – e que a taxa de positividade explodiu de 9% para 30%. Ela também revela que os principais distribuidores no Brasil já estão em processo de reposição de estoque: “Já fizeram as compras e tem grande volume de testes em trânsito para cá”. Natuza Nery ouve também Claudio Maierovitch, coordenador do núcleo de epidemiologia e vigilância de saúde da FioCruz, que explica a importância da testagem em massa para o estabelecimento de políticas públicas de saúde: “Permite diminuir a velocidade com que o vírus se espalha”. Ele, que foi diretor da Anvisa entre 2002 e 2008, alerta para o risco de que a alta velocidade de transmissão sem a medição adequada pode resultar em mais casos graves e óbitos “sem que os sistemas de saúde tenham se preparado para isso”. E recorda os primeiros meses da pandemia: “Tenho a impressão de que estamos no começo de novo: propagação rápida e testes insuficientes”.
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Jan 13, 2022 • 24min

Burnout: o esgotamento do trabalho

A partir de 1º de janeiro deste ano, a OMS incluiu a síndrome relacionada ao trabalho na classificação internacional de doença. Já há anos, o número de pessoas que recebem o diagnóstico cresce, mas houve um boom durante a pandemia – estima-se que, no Brasil, cerca de um terço da população seja afetada. A então publicitária Carol Milters sofreu em duas oportunidades: sintomas como dores no peito, reincidência em infecções e exaustão a afastaram de dois empregos. Hoje, ela, que mora na Holanda, é autora do livro “Minhas páginas matinais: crônicas da síndrome de burnout” e relata sua experiência ao Assunto. Também neste episódio, Natuza Nery conversa com a psicanalista Vera Iaconelli, que fala sobre a importância da decisão da OMS para jogar luz sobre a “patologia social” das relações laborais. E alerta: “Precisa tomar cuidado para entender que o problema não é com a pessoa, mas com a lógica de trabalho”. Ela explica as características da síndrome que, entre outros sintomas, leva à crença de que o trabalho deve “tomar todo o espaço” da vida e de que seus esforços “nunca são o suficiente”. Natuza e Vera falam também dos recortes de gênero e de raça em relação ao aumento de casos, que se multiplica principalmente entre mulheres e, sobretudo, mulheres negras. “Trabalhar cansa, mas não adoece”, resume Vera.
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Jan 12, 2022 • 25min

Explosão da ômicron: como ela mudou a pandemia

O tsunami de infecções provocado pela nova variante registra, dia após dia, recorde no número de casos: no mundo, foram mais de 3,2 milhões em 24 horas; no Brasil, a média móvel subiu mais de 600%. Trata-se de um cenário inédito na pandemia, que o médico Márcio Bittencourt, mestre em saúde pública e professor da Universidade de Pittsburgh (Estados Unidos), explica neste episódio. Em entrevista a Natuza Nery, ele esclarece por que é possível deduzir desta nova onda conclusões otimistas. “Não é só o vírus que mudou, mas seu hospedeiro também”, afirma. “Hoje estamos mais protegidos e imunizados”. A lógica é a seguinte: embora a ômicron seja “intrinsicamente mais transmissível” e “escape da imunidade”, a vacinação se provou capaz de reduzir o risco de internação ou complicação decorrente da Covid em até 20 vezes. No entanto, embora as evidências científicas demonstrem que a nova variante é cerca de 30% menos grave do que a variante dominante anterior, a delta, sua alta transmissibilidade ameaça sobrecarregar os sistemas de saúde em todo o mundo – inclusive no Brasil – e coloca em risco principalmente as crianças, ainda não imunizadas. A retomada de atividades cotidianas, como ir a festas ou voltar ao trabalho presencial, expõe a população adulta a novas contaminações e “essas pessoas, que são as que mais interagem com as crianças, acabam levando o vírus para casa”. Bittencourt ressalta que novas medidas de enfrentamento à Covid devem levar em conta, além dos índices de saúde pública, fatores como economia e convívio social. Mas que, agora, estamos em um momento no qual “se não houver medidas de contenção novamente, a transmissão seguirá intensa e irá infectar grande parte da população”.
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Jan 11, 2022 • 21min

Por que está chovendo tanto?

Em 2021, o Brasil passou por uma estiagem que fez a conta de energia subir e acendeu o alerta vermelho do risco de um apagão. Isso até dezembro chegar. De lá pra cá, todas as regiões do país sofreram com enchentes, inundações e deslizamentos de terra decorrentes do intenso volume de chuvas. O sul da Bahia foi a primeira região a enfrentar a força das águas, que agora devastam Minas Gerais. Um evento que, descreve Marcelo Seluchi, coordenador-geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), pode ser considerado o “maior desastre das últimas décadas” no Estado. Em entrevista a Natuza Nery, ele explica a “zona de convergência do Atlântico Sul”, fenômeno que é o principal responsável pela alta na precipitação fluviométrica, e justifica que, embora as tragédias deste verão não estejam diretamente vinculadas às mudanças climáticas, a tendência é de mais irregularidades no regime de chuvas. “Não vai aumentar a média, mas as oscilações. Os extremos, tanto chuvas mais intensas como secas mais longas, serão mais comuns”. Neste episódio, participa também Pedro Luiz Côrtes, professor de ciência ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP. Ele lista os principais mecanismos de mitigação dos eventos climáticos extremos no Brasil e resume: “A palavra-chave é prevenção”.
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Jan 10, 2022 • 22min

Cerrado: um bioma sob ameaça

Ele é o segundo maior do Brasil e ocupa uma área de quase um quarto do território nacional, mas está em vias de ser deixado à mercê do desmatamento. A partir de abril, o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) irá encerrar o projeto que monitora a destruição do Cerrado – cujo custo anual é de R$ 2,5 milhões. “Falta visão estratégica”, resume Mercedes Bustamante, professora do departamento de ecologia da UnB e integrante da Academia Brasileira de Ciências, em relação ao fim do monitoramento. Ela explica que a “savana mais biodiversa do mundo” tem uma importância hidrológica que impacta todas as regiões do país. “Garante a segurança hídrica, energética e alimentar do Brasil”. E conclui que o avanço do agronegócio na conversão de terras é um “tiro no pé”. Também neste episódio, Natura Nery entrevista o jornalista Fábio Campos, da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, que há duas décadas trabalha no Cerrado. Ele descreve a paisagem local, com suas “árvores baixas, troncos retorcidos e coloração amarelada” e conta por que os pesquisadores têm tanta urgência em estudar a região – que, informa, está sendo dizimada. “Hoje, as unidades de conservação representam 3% do que é o bioma”, informa. “O resto do Cerrado já não existe mais”.
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Jan 7, 2022 • 21min

Apagão: Brasil sem dados na pandemia

Quando os sistemas do Ministério da Saúde sofreram um ataque hacker, em 10 de dezembro, o número de casos, hospitalizações e mortes por Covid estava no nível mais baixo do ano até então. Mas isso antes das celebrações de fim de ano, do surto de gripe em várias cidades e do avanço da variante ômicron, que já representa mais da metade das contaminações no país. Desde então, já há quase um mês, as autoridades sanitárias brasileiras enfrentam a pandemia de olhos vendados, sem os dados necessários para frear a nova onda de infecções - a taxa de positividade nos laboratórios particulares cresce acima de dois dígitos e os hospitais já registram lotação de leitos. “Informação é poder e não faz sentido a gente não ter”, diz Julio Croda, integrante da Fundação Oswaldo Cruz e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Em entrevista a Natuza Nery, o infectologista detalha o que faz cada um dos sistemas integrados do SUS e qual o caminho da informação do atendimento nas unidades de saúde até a consolidação no Ministério. Ele também revela que conversou com diversos técnicos que trabalham com a rede do SUS – eles afirmam que “esse sistema poderia ser restabelecido em dias”. "O ataque hacker não justifica a lentidão”. Neste episódio, participa também Leonardo Bastos, pesquisador do Programa de Computação Científica (Procc), da Fiocruz, que explica como funciona a análise dos dados para a avaliação que guia as possíveis ações de políticas públicas no combate à Covid. “Tendo essas informações, as autoridades podem fazer algo, como abrir mais leitos”, afirma. “Inclusive o cidadão pode olhar para isso e pensar: ‘opa, não vou mais àquela festinha que eu ia’”.
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Jan 6, 2022 • 24min

O começo de 2022 para Bolsonaro

O fracasso na condução da pandemia, a economia em estado vegetativo e o derretimento da aprovação nas pesquisas assombraram o fim de ano do presidente. Vieram as férias - que não foram interrompidas sequer diante da tragédia provocada pelas chuvas no sul da Bahia. Depois do susto que o levou a uma internação hospitalar repentina, Bolsonaro inicia 2022 pensando em um só objetivo: a reeleição. “Há um eleitor duro do bolsonarismo, que está em torno de 20% nas pesquisas”, afirma o jornalista e analista político Thomas Traumann, colunista da revista Veja do site Poder360. “Pode não ser alto o suficiente para ganhar o segundo turno, mas é muito alto para ele deixar de estar no segundo turno”. Em entrevista a Natuza Nery, o autor do livro “O pior emprego do mundo”, sobre a passagem de 14 ministros pela Fazenda, analisa as pesquisas de opinião para avaliar as chances de o capitão reformado chegar ao segundo mandato: para ele, Bolsonaro “já pagou o preço pela pandemia” eleitoralmente, mas sofre com uma economia estagnada na qual, “se nada for feito não reelege o presidente”. Thomas explica ainda as principais estratégias do bolsonarismo para a corrida eleitoral. Duas já estão em andamento: a “tática de jogar com os seus” - a exemplo do aumento concedido a policiais federais em detrimento a todos os outros funcionários públicos - e a “narrativa dos problemas de saúde decorrentes da facada”. O movimento mais importante, no entanto, deve ocorrer durante a campanha formal ao Planalto: Thomas explica que a “pergunta clássica” em casos de reeleição é se o presidente merece mais 4 anos. “Assim, ele não se reelege. Mas vai tentar mudar a pergunta: o PT merece voltar?”
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Jan 5, 2022 • 24min

Vacina: direito das crianças

Nicolas Rodrigues dos Santos, de 9 anos, começou a se sentir mal ainda no início de dezembro. Depois de um vai-e-volta nos hospitais de Astorga, interior do Paraná, foi internado com apendicite e veio a confirmação de Covid-19. Um dia depois do Natal – para qual sua avó já comprara uma bicicleta para presenteá-lo – ele se tornou uma das mais de 500 crianças mortas durante a pandemia no Brasil. “Foi por causa da Covid que ele faleceu”, lamenta Marta Cristina Machado, avó do garoto. “Estava esperando ter a vacina para ele tomar, mas não deu tempo”. Embora a Anvisa já tenha anunciado a decisão de liberar doses da Pfizer para 35 milhões de crianças entre 5 e 11 anos (em uma versão com dosagem diferente da usada em adultos) em 16 de dezembro, o Ministério da Saúde ainda não deu o aval para a imunização em massa. Neste episódio, em entrevista a Natuza Nery, o médico e advogado Daniel Dourado explica a diferença nas atribuições da Anvisa - quem “reconhece a vacina como válida para ser usada no Brasil” - e do Ministério da Saúde - quem “define política pública, caso da vacinação em si no SUS, na esfera federal”. Ele analisa o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente sobre o dever do Estado brasileiro de garantir a imunização e a obrigação de pais e responsáveis em levar menores de idade para a vacinação. O pesquisador do Centro de Pesquisa em Direito Sanitário da USP ainda avalia o passo a passo das decisões tomadas pela pasta comandada por Marcelo Queiroga: desde a lentidão no pedido de novas doses para a Pfizer até a consulta pública com “perguntas mal elaboradas e amostragem que não temos como considerar”. “É uma maneira de fazer aceno para sua base antivacina e ao mesmo tempo ganhar tempo”, resume.
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Jan 4, 2022 • 21min

Covid a bordo: cruzeiros suspensos no país

Depois de quase dois anos, foram liberadas as primeiras viagens de cruzeiro no Brasil. Milhares de turistas embarcaram atrás de dias de descanso e lazer, mas acabaram presos dentro de cabines. Um deles é o empresário Maxwell Rodrigues, apresentador do programa Porto 360 Graus, da TV Tribuna, afiliada da Globo em Santos. Em entrevista a Natuza Nery, ele relata as falhas de comunicação a bordo do navio Costa Diadema: desde a falta de contato após a realização do teste de Covid até o “silêncio ensurdecedor” sobre as informações de casos confirmados entre tripulação e passageiros. Ele recorda também como, ao atracar na costa de Salvador, os turistas receberam a notícia de testes positivos de coronavírus no navio pela imprensa. “Depois do anúncio do lockdown, começou a correria em busca de comida”. Participa também deste episódio a pesquisadora em saúde Chrystina Barros, integrante do Grupo Técnico de Enfrentamento à Covid da UFRJ. É ela quem explica por que, mesmo no caso de as operadoras de turismo terem cumprido à risca os protocolos, não há como evitar novos casos dentro dos navios: “Não dá para conter, é uma realidade aumentada da sociedade”. E aponta que a ômicron e eventuais novas variantes tornam imprevisível o cenário para a volta dos cruzeiros – a partir da recomendação da Anvisa, a associação de empresas do setor interrompeu as atividades até dia 21 de janeiro.
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Jan 3, 2022 • 30min

Os 100 anos da Semana de Arte Moderna

No palco principal do Teatro Municipal de São Paulo, em 13 de fevereiro de 1922, o escritor Graça Aranha abriu a Semana de Arte Moderna da seguinte forma: “Para muitos de vós, essa curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de horrores”. Naqueles dias, artistas como Heitor Villas-Lobos, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti – a quem os especialistas creditam o mérito de ser a “primeira realmente modernista” do país – apresentaram composições, peças, quadros e poemas que seriam um “catalizador das várias iniciativas e direções da implementação da arte moderna no Brasil”, como define Luiz Armando Bagolin, um dos curadores da exposição Era Uma Vez o Moderno, em São Paulo. Em entrevista a Natuza Nery, o professor e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros da USP disseca os eventos históricos que culminaram no evento, cujo ”forte efeito de propaganda” foi fundamental para chamar a atenção ao movimento e impulsionar o modernismo no Brasil. Ele recorda como o Abaporu, mais célebre obra de Tarsila do Amaral, dá origem à antropofagia e como daí nasce o conflito que afastaria Mário de Andrade do núcleo duro do modernismo. “Mário foi o primeiro autor brasileiro a buscar entender antropologicamente o que é o ‘Brasil profundo’”, afirma. “Ele dizia que o Brasil não conhece o Brasil e que apenas assim se poderia conhecê-lo de verdade”. O desgaste entre o autor de Macunaíma com os demais modernistas, explica Bagolin, se intensifica sob o projeto ultranacionalista do Estado Novo, que “coopta o movimento” e mata aquilo que ele descreve como “dimensão utópica do modernismo”. Nos últimos 100 anos, sua herança passa pela construção da capital Brasília, assinada pelo mais célebre arquiteto modernista, Oscar Niemeyer, e pelo tropicalismo, que reforma a cultura nacional na música, cinema e teatro entre as décadas 1960 e 1970. Bagolin e Natuza resgatam ainda o balanço de Mario de Andrade sobre o modernismo. “Não adianta uma arte moderna em uma sociedade desigual”, cita o pesquisador. “E 100 anos depois, vivemos a mesma coisa: somos modernos, mas ainda temos irmãos que não conseguem comer”.

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