Fernando Ulrich

Vale comentar algumas notícias recentes sobre bitcoin, a lei de curso legal de El Salvador, Paraguai que está querendo ir no mesmo caminho, a migração da mineração para fora da China e as últimas críticas desferidas pelo Nassim Taleb.

Apesar do ótimo desempenho da nossa moeda nos últimos meses, a trajetória da inflação preocupa o Bacen, o que pode levar a autoridade monetária a exagerar no aperto monetário para trazer o IPCA de volta ao topo da meta de 5,25% (3,75% + 1,50% de tolerância). Essa conjuntura está fazendo com que o mercado revise suas projeções, alguns analistas projetam Selic até mesmo em 7% até o fim do ano. Será? Desafio enorme tem o Bacen pela frente.

Finalmente chegamos à última parte da série "Por que o Federal Reserve está encurralado". Basicamente quatro motivos impedem o Fed, o banco central do dólar, de normalizar a política monetária: i) prejuízos no balanço do Fed, ii) prejuízos no balanço dos bancos, iii) efeitos nos mercados e na economia real, iv) custo de refinanciamento da dívida pública americana. É provável que tenhamos juros baixos, curtos e longos, por muitos anos.

Este é o terceiro episódio da série "Por que o Fed está encurralado". Depois da nova forma de política monetária, alguns membros demonstraram inquietação e dúvidas sobre a real possibilidade de voltar ao regime pré GCF de 2008. James Bullard foi um deles, inclusive questionando os demais membros se estavam preparados para "japanizar" a política monetária dos EUA.

Este é o segundo epsódio da série "Por que o Fed está encurralado". Para entender exatamente como isso aconteceu, é preciso voltar ao regime de política monetária pré Grande Crise Financeira de 2008. Esse é o regime que poderia ser definido como "escassez de reservas", em que os bancos precisavam manter um mínimo de reservas para atender as exigências do compulsório (reservas requeridas). Neste regime, Fed apenas manipulava a taxa federal funds para atingir a meta por ele estabelecida.

Este é o primeiro epsódio da série "Por que o Fed está encurralado". Para entender exatamente como isso aconteceu, é preciso voltar ao regime de política monetária pré Grande Crise Financeira de 2008. Esse é o regime que poderia ser definido como "escassez de reservas", em que os bancos precisavam manter um mínimo de reservas para atender as exigências do compulsório (reservas requeridas). Neste regime, Fed apenas manipulava a taxa federal funds para atingir a meta por ele estabelecida.

Sinais cada vez mais fortes de bolha imobiliária em vários países do planeta. Dos EUA à Nova Zelândia e Europa. Juros em zero, mudança de comportamento, maior demanda por casas, crédito barato, bancos centrais estimulando, são todos fatores por um aumento expressivo nos preços dos imóveis residenciais. No Brasil, não podemos afirmar que estamos no mesmo cenário, mas o mercado andou bem nos últimos meses graças ao crédito bancário.

O grande experimento monetário e fiscal de 2020 está causando desequilíbrios na atividade econômica. Visando combater a deflação e estabilizar o gasto agregado, BCs e governos acabaram gerando um enorme descompasso entre oferta e demanda  Em nível macro, o aumento dos preços é o sintoma mais óbvio. Em nível micro, faltas generalizadas de produtos, materiais e mão de obra são sentidos em toda a cadeia produtiva. Os relatos de empreendedores mundo afora é impressionante. Nunca viram algo parecido em décadas de experiência. Esse estado de coisas está registrado no famoso relatório "Beige Book" do Federal Reserve, onde, na recente edição de junho, a palavra "shortage" (falta) apareceu nada menos que 53 vezes. Um recorde absoluto.

Mais uma vez a inflação americana surpreendeu as expectativas no mês de maio. Federal Reserve tem um enorme problema nas mãos, especialmente porque força de trabalho ainda não voltou para o mercado de trabalho como deveria, apesar do recorde de vagas em aberto em diversos setores. Sob a ótica do duplo mandato (estabilidade de preços e pleno emprego), o Fed tem argumentos para embasar uma postergação da elevação da taxa de juros. Esse é o cenário mais provável, apesar dos sinais de superaquecimento da economia americana.

As repercussões geopolíticas da aprovação do curso legal do bitcoin em El Salvador já começaram. Declarações do FMI e do Banco Central Europeu já questionam as consequências da lei. A verdade é que o mundo está em meio a uma batalha pelo controle do sistema monetário global em que o dólar e os EUA têm enorme influência e poder econômico e geopolítico sobre tudo que ocorre. Muitos países, como a Rússia, estão se queixando desse estado de coisas e, talvez, num futuro podem enxergar no bitcoin uma das únicas alternativas de um sistema de pagamentos apolítico e neutro.