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O Assunto

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Oct 20, 2022 • 25min

O voto e o peso do agro em 2022

No cinturão do agronegócio brasileiro, que atravessa os estados do Sul, passa por São Paulo, integra o Centro-Oeste e chega a porções do Norte, o resultado das urnas no primeiro turno traduziu o expressivo apoio que o setor oferece a Jair Bolsonaro. Os elementos que explicam esse fenômeno, afirma Caio Pompeia, autor do livro “Formação Política do Agronegócio”, são “em parte econômicos e em parte ideológicos”. Em conversa com Renata Lo Prete, o antropólogo e pesquisador visitante na Universidade de Oxford recorda que o “agro se beneficiou muito nos governos petistas”, mas sempre houve resistência a políticas trabalhistas, sociais, agrárias e ambientais implementadas nas gestões Lula e Dilma. A insatisfação se misturou bem à “agenda antiesquerda” promovida pelo atual presidente desde antes da chegada ao Planalto. Assim, ele atraiu para sua órbita principalmente a pecuária e a sojicultura, dois segmentos que, neste ano, se opuseram “ferozmente” aos agroempresários dispostos a dialogar com Lula. “Os líderes do setor são muito conservadores”, ressalta Caio, e muitos foram cooptados para a promoção de pautas “antidemocráticas e contra o STF”. Nos números, o PIB nominal do agro, informa Marsílea Gombata, repórter do jornal Valor Econômico, chegou a R$ 2 trilhões - avanço muito superior, nos últimos quatro anos, ao do conjunto da economia. A expansão, explica a jornalista, tem mais motivações externas do que internas: a alta recorde no preço das commodities, a desvalorização do real diante ao dólar e a integração do agro ao mercado internacional.
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Oct 19, 2022 • 31min

Bolsonaro e a infância roubada

Em pelo menos três ocasiões, o presidente da República não apenas sexualizou menores de idade venezuelanas como sugeriu que elas estariam se prostituindo. Um caso entre vários protagonizados por ele e por aliados como a ex-ministra Damares Alves, reveladores de um modo de enxergar a infância e a adolescência. Trata-se de mistura de fake news com uma espécie de “solidariedade seletiva”, explica neste episódio a jornalista Fabiana Moraes, do Intercept Brasil. Em “perigosa instrumentalização”, diz, “eles escolhem crianças que possam trazer rendimentos políticos claros”. Enquanto isso, ao longo do atual governo, foram reduzidos drasticamente o volume de recursos e o número de programas voltados para a proteção e promoção de crianças e jovens. Quem detalha esse processo, em conversa com Renata Lo Prete, é Thallita de Oliveira, assessora técnica do Instituto de Estudos Socioeconômicos. Na atual gestão, “a palavra adolescente sumiu do Plano Plurianual (PPA)”, observa ela, integrante de um movimento que reivindica prioridade política e orçamentária para essas faixas etárias. Mantida a atual situação, “o recado é que a gente não quer evoluir como sociedade”.
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Oct 18, 2022 • 24min

Bolsonaro com Moro: qual é a jogada

Colocado para fora do governo em 2020 com requintes de humilhação, o ex-juiz falou o diabo do presidente - e vice-versa. Frustrado em seu projeto original de concorrer ao Palácio do Planalto, candidatou-se ao Senado pelo Paraná, e obteve sucesso justamente quando se associou de novo à imagem do ex-chefe. Este, por sua vez, levou-o a tiracolo ao debate de domingo para “encarnar a memória do antipetismo”, analisa Carlos Andreazza, âncora da rádio CBN, apresentador do podcast 2+1 e colunista do jornal O Globo. Em conversa com Renata Lo Prete, o jornalista diz que o time de futuros parlamentares ao qual Moro pertence consagrou o bolsonarismo e “anistiou criminosos da pandemia”. Como o “discurso da Lava Jato já não servia mais”, Moro topou representar a “radicalização no sentimento antipetista”. Bom negócio para Bolsonaro, avalia Andreazza, mas de ganho incerto para Moro. Se Lula vencer, o ex-ministro da Justiça ainda poderá tentar se cacifar como alternativa da direita para 2022, a despeito de sua pouca entrada com as forças políticas. Em caso de reeleição, Bolsonaro se afastará rapidamente de Moro, no qual nunca confiou - e vice-versa. “Ambos com razão”, completa Andreazza.
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Oct 17, 2022 • 24min

Populismo: do que estamos falando?

A resposta a essa questão, que dá título ao livro recém-lançado dos cientistas políticos Thomás Zicman de Barros e Miguel Lago, passa pelo uso do termo no plural. “São populismos”, afirma Thomás. Em conversa com Renata Lo Prete, o pesquisador do Centro de Estudos Políticos da Sciences Po Paris conta que a dupla se interessou pelo tema ao constatar a utilização indiscriminada da palavra para descrever ideias e práticas de personagens tão díspares quanto Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Uma confusão que “normaliza a extrema-direita" e “estigmatiza a esquerda". Para Thomás, embora existam elementos comuns a diferentes tipos de populismo (como a oposição discursiva entre "povo" e "elites" e uma espécie de transgressão das formas tradicionais de fazer política), um abismo separa os dois projetos em questão. Em sua avaliação, o populismo de Lula é “emancipador”, porque incorpora ao debate setores subalternizados. Enquanto o de Bolsonaro seria “reacionário”, permanentemente mobilizando ressentimentos e medo de transformações sociais. Ao atrair ex-adversários, o petista “reforça sua característica conciliadora”, na contramão do entendimento do presidente de que o oponente é sempre "alguém a ser destruído".
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Oct 14, 2022 • 27min

A guerra nada santa de Bolsonaro

No intervalo de cinco dias, o candidato à reeleição pelo PL compareceu a duas das maiores festas do calendário católico. No sábado, foi ao Círio de Nazaré, em Belém (PA). Na quarta-feira, à missa em homenagem à padroeira do Brasil no Santuário de Aparecida (SP). Em ambos os casos, estava em busca de “fotos com uma multidão cristã”, mirando em especial os votos dos não-praticantes, afirma Rodrigo Toniol, pesquisador de sociologia das religiões e professor na UFRJ e na Unicamp. O descontentamento manifestado por integrantes do clero diante do espetáculo eleitoreiro ameaça atrair para o presidente a imagem de “desrespeitoso” e “fariseu”, diz. Em conversa com Renata Lo Prete, o antropólogo avalia os desdobramentos dessa espécie de “motociata em Aparecida”, na qual bolsonaristas hostilizaram funcionários de emissora de TV ligada à Igreja Católica e vaiaram falas do arcebispo. Toniol detalha ainda a “tradição de conservadorismo” entre determinados grupos católicos ao longo do século 20. Participa também do episódio André Eler, diretor-adjunto da Bites Consultoria e autor da newsletter “Didaquê do Jair”, sobre a relação do presidente com os evangélicos. Ele compara o impacto desses eventos de campanha entre os públicos evangélico e católico. De um lado, alerta para a ação pró-Bolsonaro dos “influencers espirituais”, que reúnem mais de 30 milhões de seguidores em redes sociais. De outro, aponta o risco de o candidato se consolidar como uma figura pouco crível, um “camaleão religioso”.
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Oct 13, 2022 • 24min

Bolsonaro: crônica da autocracia anunciada

Ao retomar a conversa sobre ampliar o número de ministros do Supremo, o presidente explicita o que pretende fazer no eventual segundo mandato. Além de avançar sobre o tribunal, principal muro de contenção das arbitrariedades do Executivo nos últimos 4 anos, trata-se de controlar imprensa, universidades e instituições independentes de maneira geral, até reescrever a Constituição para “tornar ilimitada a possibilidade de reeleição”. Quem expõe a cartilha neste episódio é o cientista político Fernando Abrucio, da FGV-SP. “Esse é o projeto que está na cabeça de Bolsonaro”, afirma o professor, lembrando precedentes em países como Hungria e Venezuela. Em conversa com Renata Lo Prete, ele avalia o saldo de apoios para cada um dos finalistas neste acirrado segundo turno, analisa especialmente o quadro no interior de São Paulo (hoje maior reduto bolsonarista do Brasil) e diz que a história “cobrará um preço” das elites que convalidem, por ação ou omissão, o projeto autocrático.
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Oct 11, 2022 • 28min

Guerra: a represália da Rússia

A explosão de um caminhão-bomba na ponte que liga o território russo à península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, foi a senha para um ataque como não se via desde as primeiras semanas da invasão, em fevereiro. Mísseis atingiram as maiores cidades ucranianas, entre elas a capital, Kiev, matando ao menos 14 pessoas e ferindo quase uma centena. Boa parte desses lugares ficou sem energia. O incidente ainda mal esclarecido na ponte Kerch e a “resposta vigorosa” de Vladimir Putin inauguram “um novo momento da guerra”, afirma Daniel Sousa, comentarista da GloboNews e criador do podcast Petit Journal. Em conversa com Renata Lo Prete, ele rememora como se chegou a esse ponto. E destaca, entre os eventos recentes, a anexação formal pelos russos de províncias no leste e a recuperação de territórios pelo país invadido. “Foi um ressurgir da Ucrânia na guerra”, afirma Daniel, que é também professor de economia do Ibmec. Agora, a perspectiva é de “absoluta indefinição”: nos dois lados da fronteira, soam alertas de que grupos radicais podem ganhar espaço e forçar ações ainda mais violentas. Pressões internas e externas “fragilizam” a situação de Putin, que promete reagir de forma ainda mais brutal - até mesmo com armas nucleares táticas - diante de novas hostilidades. “Seria o cruzamento de uma linha vermelha, que colocaria todo o mundo em perigo”.
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Oct 10, 2022 • 21min

Assédio eleitoral: casos em série

No Pará, um empresário foi flagrado em vídeo oferecendo dinheiro a funcionários para que votem em Jair Bolsonaro no 2º turno, em 30 de outubro. Em Mato Grosso do Sul, um boiadeiro passou a ser boicotado por fazendeiros depois de revelar a um amigo, em mensagem de áudio, sua preferência por Lula. No Rio Grande do Sul, uma empresa comunicou em nota que fará drástica redução de investimentos caso o candidato petista vença. "Para o Ministério Público do Trabalho, isso é assédio", afirma Fernanda da Escóssia, editora da revista Piauí e coautora de reportagem que elencou vários incidentes e ouviu autoridades de fiscalização. Elas relataram que vêm recebendo denúncias desde agosto, e que o quadro piorou a partir da reta final do primeiro turno. Na conversa com Renata Lo Prete, Fernanda, que é também professora de Jornalismo da UERJ, chama a atenção para o duplo problema envolvido: "é infração trabalhista e crime eleitoral". E para a urgência de combatê-lo: “o importante é que o direito ao voto livre seja garantido".
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Oct 7, 2022 • 30min

Lula x Bolsonaro: status da disputa

Concluída a apuração do primeiro turno, os dois finalistas iniciaram a temporada de anúncios de apoios. “O presidente saiu na frente”, afirma Maria Cristina Fernandes, colunista do jornal Valor Econômico e comentarista da rádio CBN. “Mas ele tem uma distância maior a percorrer”, pondera, referindo-se à vantagem de cerca 6 milhões de votos do ex-presidente petista. O candidato à reeleição pelo PL foi bem-sucedido em obter a adesão dos governadores dos três maiores colégios eleitorais do país (pela ordem, SP, MG e RJ). Isso conta “porque na política as peças se movem pela expectativa de poder”. Na reta final da campanha, “20% dos indecisos correram para Bolsonaro”, observa ela, “resultado do antipetismo, que vem da saga da corrupção”. Do lado de Lula, a chegada de Simone Tebet (MDB) agrega na comunicação com “o agronegócio, o público feminino e o eleitorado antipetista”, avalia Maria Cristina. Ela analisa a pressão para que Lula sinalize antecipadamente quem seria seu ministro da Fazenda. E, ainda nessa seara, o significado do apoio recebido de economistas “com a grife do Plano Real”. Nas três semanas restantes de campanha, a pauta deve se concentrar em dois eixos. Um deles é o “debate dos costumes”, que já vem agitando as militâncias nas redes sociais. No entender da jornalista, seria uma “cilada” para Lula enveredar por esse campo. No outro estão os “pujantes problemas da vida real”, que Bolsonaro tenta atacar com sua “metralhadora de benefícios”. Mas ele segue com dificuldade em virar votos na base da pirâmide: “um recado importante das urnas foi que o pobre não vende o seu voto”, conclui Maria Cristina.
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Oct 6, 2022 • 26min

Autodeclaração racial nas eleições

Os negros (aí incluídos pretos e pardos, na classificação do IBGE) representam 56% da população brasileira. Já na Câmara dos Deputados recém-eleita eles são, oficialmente, 21%. E mesmo este tímido percentual embute uma ilusão. A Casa “é mais branca do que a gente imagina”, afirma Luiz Augusto Campos, coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e um dos autores do livro “Raça e Eleições no Brasil”. Estudo conduzido pelo sociólogo encontrou discrepâncias no caso de 60 dos 135 eleitos (eles registraram as candidaturas se apresentando como negros, embora não sejam socialmente “lidos” assim). Renata Lo Prete conversa também com Samuel Vida, coordenador do programa Direito e Relações Raciais na Universidade Federal da Bahia, para entender como evitar fraudes sem perder os avanços obtidos com a autodeclaração, que efetivamente contribui para o aumento da representatividade. Ele destaca a importância de ações para combater o racismo institucional. “Não podemos reduzi-lo a manifestações de ódio individual”, diz.

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