

Ilustríssima Conversa
Folha de S.Paulo
A equipe de jornalistas da Ilustríssima, da Folha, entrevista autores de livros de não ficção ou de pesquisas acadêmicas.
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Jul 8, 2023 • 43min
Roberto Andrés: Junho de 2013 tornou passe livre um debate real
O Ilustríssima Conversa volta ao debate sobre os 10 anos de Junho de 2013. O convidado do episódio deste sábado (8), o urbanista Roberto Andrés, acaba de lançar o livro "A Razão dos Centavos - Crise Urbana, Vida Democrática e as Revoltas de 2013" (ed. Zahar). Em um panorama amplo que vai do período imperial ao terceiro mandato de Lula, Andrés mostra como a urbanização descontrolada e os problemas de transporte público intensificam a desigualdade e estimularam revoltas ao longo da história. Professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, Andrés realça em sua pesquisa o vínculo central da crise urbana com Junho de 2013, embora os protestos tenham depois sido associados a uma vasta gama de pautas e reivindicações. Como legado positivo dos atos, ele destaca que a ideia da tarifa zero para o transporte público deixou de ser um sonho para se tornar um debate possível, encampado até por prefeitos de fora da esquerda. Por outro lado, o autor pondera que a agenda urbana continua sem receber a devida atenção por parte do governo federal. Produção e apresentação: Marco Rodrigo Almeida Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.

Jun 24, 2023 • 43min
Como Oswald de Andrade conheceu Vinicius de Moraes fugindo da guerra
Em 1939, o poeta, escritor e polemista Oswald de Andrade, um dos expoentes da Semana de Arte Moderna de 1922, foi à Europa representar o Brasil num congresso literário. Àquela altura, ele e sua então mulher, a poeta Julieta Barbara Guerrini, tinham decidido passar uma temporada no Rio de Janeiro. O casal partiu da Praça Mauá rumo a Londres, de onde iriam para Estocolmo, onde encontrariam escritores de diversos países. O que os dois não esperavam é que as tropas de Hitler fossem invadir a Polônia, dando início ao que seria a Segunda Guerra Mundial. O escritor, pesquisador e também músico carioca Mariano Marovatto, convidado do podcast Ilustríssima Conversa deste sábado (24), conta as peripécias de Oswald e Julieta na Europa em seu recém-lançado "A Guerra Invisível de Oswald de Andrade" (editora Todavia). O fundamental naquele momento era dar um jeito de retornar ao Brasil. A melhor opção era tentar ir para Portugal, país que havia se declarado neutro. O casal passou por boas aventuras antes de conseguir chegar a Lisboa –entre elas, uma movimentada viagem a bordo de uma ambulância. Na capital portuguesa, entre outros episódios, o livro narra o encontro de Oswald com o jovem poeta carioca Vinicius de Moraes. Produção e apresentação: Marcos Augusto Gonçalves Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.

Jun 10, 2023 • 39min
Mauricio Stycer: O Homem do Sapato Branco e o sensacionalismo na TV
Jacinto Figueira Júnior, conhecido como o Homem do Sapato Branco, foi um dos precursores do sensacionalismo na TV brasileira, com programas que apelavam a crimes, barracos de vizinho e confusões na rua. O personagem é o tema do livro "O Homem do Sapato Branco: A Vida do Inventor do Mundo Cão na Televisão Brasileira" (ed. Todavia), do jornalista, crítico de TV e colunista da Folha Mauricio Stycer, que é o convidado do Ilustríssima Conversa deste sábado (10). "Sempre me interessaram as ondas de sensacionalismo na história da TV brasileira", diz Stycer. "Em diferentes momentos, há um excesso de apelação e, depois, um refluxo." Escolheu Jacinto porque, a partir da trajetória dele, é possível ver como esse tipo de programa se estabeleceu no país. Entre os anos 1960 e os anos 1990, com intervalos e um período de ostracismo no meio, o apresentador teve várias encarnações na TV, dos primórdios da TV Cultura —que ainda tinha Assis Chateaubriand como dono— aos primeiros passos da TV Globo e do SBT. O apresentador até promoveu inovações na TV ao trazer para o debate público assuntos que não eram retratados ou ao mostrar o que acontecia nas ruas, mesmo com câmeras difíceis de tirar do estúdio. Mas também deixou heranças problemáticas, que podem ser vistas no trabalho de herdeiros atuando hoje na televisão. Na entrevista ao Ilustríssima Conversa, Stycer conta a trajetória do Homem do Sapato Branco, discute os problemas dos programas sensacionalistas na TV e analisa os dilemas da mistura entre jornalismo e entretenimento. O autor também discute a moda das produções sobre crimes reais, as questões éticas envolvidas na exposição da violência –e como fica o trabalho da crítica de TV no meio disso.See omnystudio.com/listener for privacy information.

May 27, 2023 • 49min
Angela Alonso: País perdeu chance de isolar direita autoritária em 2013
Não basta olhar as Jornadas de Junho de 2013 como a origem de sucessivas crises políticas que o Brasil viveu depois delas. Para entender os protestos que explodiram dez anos atrás, é preciso avaliá-los como uma consequência —e analisar as causas que levaram à sua eclosão. É essa a espinha dorsal do novo livro de Angela Alonso, professora de sociologia de USP e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), que também é colunista Folha. Alonso é a convidada do Ilustríssima Conversa deste sábado (27). Em "Treze - A Política de Rua de Lula a Dilma" (Companhia das Letras), ela analisa as transformações que a chegada do PT ao poder provocou na política de rua, com movimentos à esquerda e à direita começando a articular uma crítica ao governo. Alonso mapeia os grupos que passaram a se organizar e também os principais conflitos que se desenrolavam na sociedade brasileira desde o começo das gestões petistas, de pautas econômicas a questões morais. A socióloga sustenta que o governo de Dilma Rousseff e analistas políticos falharam em identificar os movimentos de direita nas ruas e reconhecê-los como atores políticos legítimos. Essa dificuldade impediu que esses grupos fossem levados à mesa de negociação e tivessem suas demandas ouvidas "Como a interpretação dominante é que eram protestos à esquerda, a resposta governamental também foi à esquerda", afirma ela. "Se esses movimentos tivessem sido ouvidos, teria havido a possibilidade de trazer os mais liberais ou conservadores democráticos para o jogo político-institucional de maneira mais efetiva, em vez de ficarem misturados aos movimentos autoritários, que eram minoria. Há ali uma chance perdida de isolar a parte autoritária da rua."See omnystudio.com/listener for privacy information.

May 12, 2023 • 53min
Fernando Limongi: Estamos pagando a conta do impeachment de Dilma
Para afastar um presidente, apenas a vontade da oposição não basta. Afinal, é preciso dois terços dos votos dos parlamentares tanto na Câmara quanto no Senado. A perda de apoio dos congressistas foi central para a queda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. Por isso, para entender o processo de impeachment dela, é necessário compreender como a base parlamentar que a petista herdou de Lula implodiu. E como, na hora decisiva, aliados se voltaram contra ela. O derretimento dessa coalizão é o eixo central do livro “Operação Impeachment - Dilma Rousseff e o Brasil da Lava Jato” (ed. Todavia), escrito pelo cientista político Fernando Limongi, que é professor da USP e da FGV. Ele é o convidado do Ilustríssima Conversa deste sábado (13). Na obra, Limongi lembra como a aliança de partidos liderada pelo PT governou o Brasil desde a primeira eleição de Lula —e sustenta que a união não tinha nada de frágil. Para explicar o desmonte dessa base, o cientista político volta ao começo do primeiro mandato de Dilma, quando a presidente fez trocas em ministérios e mudanças na diretoria da Petrobras, abraçando o discurso anticorrupção. Na entrevista ao podcast, Limongi analisa as consequências dessa escolha de Dilma e como a atuação da Lava Jato contribuiu para a queda dela. O cientista político defende que Dilma e o PT foram as cargas lançadas ao mar para salvar a embarcação –ou seja, o impeachment seria uma tentativa da classe política de se proteger das investigações do Ministério Público. Mas ele aponta que, enquanto o PT conseguiu sobreviver como alternativa eleitoral, os partidos que encamparam o impeachment foram os principais prejudicados pelos impactos do processo no sistema político. "A direita ou centro-direita foi a principal vítima. Tem um lado paradoxal, eles acabaram se matando ali. O Aécio Neves (PSDB-MG) é um símbolo disso", afirma Limongi, acrescentando ver danos desse processo para o bom funcionamento do sistema político hoje. "O impeachment foi uma investida de tolos que acabou prejudicando a todos. Quem está pagando a conta somos nós."See omnystudio.com/listener for privacy information.

May 8, 2023 • 2min
[DICA] Conheça o Brasil à Vista, podcast de políticas públicas da Folha
Te convidamos a conhecer o Brasil à Vista, podcast da Folha de S.Paulo que vai desfazer os nós das políticas públicas e discutir o futuro do país. A cada semana, os apresentadores Irapuã Santana e Angela Boldrini recebem dois especialistas para debater e pensar em soluções para questões estruturantes da sociedade brasileira, como desigualdade de renda, habitação e racismo. O primeiro episódio estreia nesta quarta-feira (10) e traz a economista Laura Müller Machado e o sociólogo Rafael Osório, do Ipea, em uma conversa sobre a nova cara do Bolsa Família e o futuro do combate à pobreza. Você encontra o Brasil à Vista nas principais plataformas de podcast e no site da Folha.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Apr 29, 2023 • 40min
Luiz Marques: Capitalismo sem limites acelera crise climática
Grande parte do que se sabe hoje sobre o aquecimento global já era conhecido no final dos anos 1970, afirma Luiz Marques, professor aposentado do Departamento de História da Unicamp. No entanto, o conhecimento científico sobre os mecanismos que provocam o aumento da temperatura do planeta não levou a uma mudança de rumos para mitigar a crise climática que a humanidade vive hoje. Muito pelo contrário: nas últimas décadas, lembra o historiador, houve uma aceleração do desmatamento, do uso de combustíveis fósseis e de outros processos que, movidos por um capitalismo globalizado que não é capaz de respeitar os limites do planeta, vem emitindo quantidades colossais de gases de efeito estufa na atmosfera. Ao mesmo tempo, os resultados de convenções internacionais para limitar o aquecimento global são extremamente frustrantes, o que faz com que as ações tomadas nos anos 2020 sejam determinantes para o futuro da vida na Terra e as chances de sobrevivência da humanidade. Esse é a tese do recém-lançado "O Decênio Decisivo: Propostas para uma Política de Sobrevivência". Em sua avaliação, esse desafio existencial deve ser enfrentado abandonando o que se entende hoje por realismo: não mais usar o passado como régua do futuro, não mais apostar em mudanças brandas e graduais. Sobreviver em uma era de colapso socioambiental não exige cautela, diz Marques, mas uma redefinição profunda dos fundamentos da economia e da política que regem nossa vida social. Neste episódio, o autor defende a superação do princípio da soberania nacional absoluta e a subordinação da economia capitalista à dimensão ecológica do planeta. Marques também faz uma avaliação da política ambiental brasileira e das contradições que o governo Lula (PT) terá que enfrentar em relação à Amazônia. Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.

Apr 15, 2023 • 42min
Bela Gil: Trabalho doméstico sem salário não é amor, é escravidão
No clássico "Geografia da Fome", de 1946, Josué de Castro virou pelo avesso o debate sobre o flagelo que assolava milhões de brasileiros. A fome, ele dizia, não pode ser reduzida à falta de alimentos, causada por secas ou outros fenômenos naturais: ela precisa ser vista como uma questão política. Quase 80 anos depois, o Brasil enfrenta mais uma vez taxas alarmantes de insegurança alimentar, mas hoje, lembra Bela Gil, a fome não é o único nó quando se pensa em comida. O consumo de ultraprocessados vem impulsionando um novo tipo de desnutrição, em um cenário que, para a chef de cozinha, lembra um genocídio silencioso, que afeta pessoas pobres e racializadas com mais força. No recém-lançado "Quem Vai Fazer essa Comida", Bela Gil lança um olhar amplo sobre os hábitos alimentares difundidos pelo agronegócio e pela indústria alimentícia. O livro se distancia da responsabilização individual e reflete sobre as questões econômicas e sociais que fazem com que a alimentação saudável seja um privilégio para poucos. Neste episódio, a autora defende que é preciso revolucionar a produção e o consumo de alimentos e finalmente remunerar o trabalho doméstico, feito principalmente por mulheres, tão essencial para a existência de outras ocupações fora de casa. Leia a transcrição do episódio em folha.com/32w05ef4 Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Laila Mouallem See omnystudio.com/listener for privacy information.

Apr 8, 2023 • 24sec
Aviso: Novo episódio vai ao ar em 15 de abril
Em razão do feriado de Páscoa, o novo episódio do Ilustríssima Conversa vai ao ar em 15 de abril.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Mar 25, 2023 • 42min
Javier Montes: Luz del Fuego, queer e protofeminista, é bússola para superar intolerância
Durante cinco anos, no final dos anos 1940 e começo dos anos 1950, Luz del Fuego causou alvoroço na entrada do Baile de Gala do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A regra do Carnaval é subverter as regras, mas tudo tem limite. Durante cinco anos, a dançarina desceu do seu conversível, subiu a escadaria do teatro —algumas vezes carregando uma das suas jiboias, algumas vezes besuntada em óleo, mas sempre completamente nua— e foi barrada pelos porteiros. Em 1952, para a surpresa de todos, Del Fuego chegou fantasiada de noiva e pôde entrar no baile. O traje de mulher que se rendeu aos bons costumes não era mais que uma fantasia. Dentro do teatro, ela sacou duas pistolas e começou a atirar para o teto, causando um verdadeiro pandemônio entre os convidados. O escritor espanhol Javier Montes, autor de um livro recém-lançado sobre Luz del Fuego, escolheu essa cena para apresentar aos leitores a dançarina, naturista, guerrilheira urbana ou performer. São muitas as possibilidades para se referir a ela —em comum, todas parecem estar à frente do tempo em que Luz del Fuego viveu. A falta de palavras para defini-la, diz Montes, correspondeu a uma dificuldade em enxergá-la, o que explica o seu apagamento em vida e depois de seu assassinato, em 1967. Neste episódio, Montes fala sobre o pioneirismo de Luz del Fuego em várias frentes: ela fundou o primeiro clube naturista da América Latina, em uma ilhota na baía de Guanabara, e tentou criar um partido com o lema "menos roupa e mais pão!". Foi também uma protofeminista e uma protoqueer, afirma o autor, e incorporou com naturalidade, em sua vida, questões de gênero e sexualidade dissidentes que ainda hoje despertam ódio e preconceito. Veja fotos de Luz del Fuego e da ilha do Sol em folha.com/z4qenm1t Produção e apresentação: Eduardo Sombini Edição de som: Raphael Concli See omnystudio.com/listener for privacy information.