

Perguntar Não Ofende
Daniel Oliveira
É mais que uma entrevista, é menos que um debate. É uma conversa com contraditório em que, no fim, é mesmo a opinião do convidado que interessa. Quase sempre sobre política, às vezes sobre coisas realmente interessantes. Um projeto jornalístico de Daniel Oliveira e João Martins. Imagem gráfica de Vera Tavares com Tiago Pereira Santos e música de Mário Laginha.
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Sep 19, 2023 • 1h 22min
Vera Ferreira: a descarbonização ainda pode ser justa?
As alterações climáticas provocadas pelo efeito humano já não são uma discussão científica, dado o consenso existente. Têm de ser política. Os efeitos não são iguais para todos. Vão empobrecer ainda mais o sul global, que quase nada contribuiu para o estado a que chegámos. E a transição energética vai gerar milhões de empregos qualificados, deixando pelo caminho um rasto de destruição de empregos e territórios dependentes das energias fósseis. Como compensar estes efeitos é uma discussão política, que convém ter quanto antes, sem esperar que as populações reconheçam uma suposta generosidade das medidas para descarbonizar o planeta que as deixa pelo caminho. Ou há equidade nas respostas, não sendo aceitável que se permita a proliferação de jatos particulares enquanto se limita o acesso dos carros ao centro das cidades, ou é nas democracias que a derrota desta agenda será mais violenta. Vera Ferreira, mestre em relações internacionais, onde trabalhou sobre "Migrações Climáticas e Segurança Humana", está a concluir o doutoramento em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. A sua tese, “transição energética em Portugal no horizonte 2050”, centra-se na discussão sobre uma transição energética justa em Portugal. É ela a convidada deste episódio.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Sep 5, 2023 • 59min
Mariana Cabral: o que diz um beijo sobre o futebol feminino?
No momento mais importante das suas vidas desportivas, as mulheres da seleção espanhola de futebol viram o palco ocupado por um homem. Com um beijo na boca de uma jogadora que, para todos os efeitos, era sua subordinada, totalmente despropositado e abusivo em contexto profissional, abriu-se um debate que pode parecer exagerado, pelo momento emocional em que o episódio se deu, mas que é muitíssimo relevante. Porque os pequenos episódios com grande visibilidade são, muitas vezes, os que permitem sublinhar que não é natural o que muitos julgam ser. Nos últimos anos de jornalista, Mariana Cabral acumulou a atividade no Expresso com o treino das equipas de juvenis femininas do Sporting, até se ter dedicado a 100% como treinadora, agora com a equipa sénior feminina do SCP. Mulher, treinadora de futebol e feminista, fala sobre desporto, igualdade e sobre o beijo despropositado e abusivo de Luis Rubiales neste episódio.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Aug 21, 2023 • 1h 19min
Alfredo Cunhal Sendim: há uma agropecuária sustentável e capaz de nos alimentar? [21 de outubro de 2019]
Para o mês de agosto, enquanto estamos de férias, escolhemos quatro episódios anteriores à chegada do Perguntar Não Ofende ao Expresso. A qualidade de som não será exatamente a mesma, uma ou outra coisa pode estar ultrapassada. Mas são quatro entrevistas quase que considero exemplares das pessoas que demos a conhecer e dos debates que aqui tivemos. Não são o Presidente da República, o primeiro-ministro, os líderes dos partidos, Dilma Rousseff ou grandes figuras da cultura portuguesa, que por aqui passaram e que pode procurar na secção o Perguntar Não Ofende na página do Expresso. São quatro conversas exemplares dos últimos anos, para ir ouvindo durante as férias. Voltamos em setembro com novas conversas. Em outubro de 2019 fomos até ao Montado do Freixo do Meio para uma conversa ao ar livre com Alfredo Cunhal Sendim. Esta herdade é a materialização de um tratado político. Trabalha-se para criar um sistema de produção alimentar e de distribuição capaz de combater as alterações climáticas, contrariando a lógica da produção intensiva. Alfredo recuperou o montado, que permite uma exploração multifuncional, integral e sustentada dos recursos, sem os esgotar. Um bom símbolo para recordar uma coisa que não está na moda: que uma alimentação sustentável é equilibrada e integral. Para compreender como é possível um projeto que parece alternativo e marginal ter ganho a dimensão que tem, foi com ele que falámos há quase quatro anos. Neto de um latifundiário de Montemor. Era ele ainda uma criança, as terras foram ocupadas pela Reforma Agrária. Quando a família as recebeu de volta, Alfredo era um jovem universitário em Évora, que vinha de uma vida urbana e despreocupada da Avenida de Roma. Quando as terras lhe caíram no colo, começou por fazer o que sempre se tinha feito. Comprou mais ovelhas, que alimentava com o que vinha de fora, produzia trigo e a cortiça pagava os prejuízos do resto. Foi a aprendizagem através do erro que o fez repensar tudo. E tinha a escala que lhe permitia ser mais ambicioso. Hoje, a Herdade do Freixo é um exemplo incontornável para quem queira pensar alternativas para uma agropecuária sustentável. Recuperou o montado, um sistema agro-silvo-pastoril criado e mantida pelo homem durante oito séculos, para aproveitar de forma sustentada solos pobres e um clima hostil. Um sistema que foi destruído pelo uso industrializado, intensivo e insustentável dos solos. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Aug 14, 2023 • 1h 12min
Miguel Vale de Almeida: as políticas de identidade estão a destruir a esquerda? [18 de outubro de 2018]
Para o mês de agosto, enquanto estamos de férias, escolhemos quatro episódios anteriores à chegada do Perguntar Não Ofende ao Expresso. A qualidade de som não será exatamente a mesma, uma ou outra coisa pode estar ultrapassada. Mas são quatro entrevistas quase que considero exemplares das pessoas que demos a conhecer e dos debates que aqui tivemos. Não são o Presidente da República, o primeiro-ministro, os líderes dos partidos, Dilma Rousseff ou grandes figuras da cultura portuguesa, que por aqui passaram e que pode procurar na secção o Perguntar Não Ofende na página do Expresso. São quatro conversas exemplares dos últimos anos, para ir ouvindo durante as férias. Voltamos em setembro com novas conversas. Antigo dirigente do Bloco de Esquerda, deputado do Partido Socialista e um dos mais notáveis ativistas dos direitos LGBT, o professor e antropólogo Miguel Vale de Almeida trabalha em questões de género e sexualidade, assim como de raça e pós-colonialismo. Foi com ele que gravamos há quase cinco anos, nos primeiros meses de existência do podcast, em casa. Estará a esquerda, com a sua concentração nas políticas de identidade, a desfocar do combate à desigualdade social e económica que poderia mobilizar uma grande maioria? Será que essa estratégia não a atirará para uma derrota histórica que deixará a direita neoliberal e a extrema-direita sozinhas no confronto político fundamental? Sim, é verdade que a luta pelo poder está em todos os aspetos da vida, do Estado à casa, da empresa à cama. Mas é uma verdade politicamente inútil, porque ela balcaniza os atores políticos e as suas causas. E esta esquerda não se limitou a somar minorias de oprimidos, também somou maiorias de opressores. Que somos, de alguma forma e em alguma das nossas identidades, todos nós. E que tem no discurso da culpa a resposta para a superação dessas opressões. O argumento é substituído pelo tabu que torna qualquer debate num campo de minas. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Aug 7, 2023 • 1h 23min
Maria Gil: os ciganos são inassimiláveis? [18 de julho de 2019]
Para o mês de agosto, enquanto estamos de férias, escolhemos quatro episódios anteriores à chegada do Perguntar Não Ofende ao Expresso. A qualidade de som não será exatamente a mesma, uma ou outra coisa pode estar ultrapassada. Mas são quatro entrevistas quase que considero exemplares das pessoas que demos a conhecer e dos debates que aqui tivemos. Não são o Presidente da República, o primeiro-ministro, os líderes dos partidos, Dilma Rousseff ou grandes figuras da cultura portuguesa, que por aqui passaram e que pode procurar na secção o Perguntar Não Ofende na página do Expresso. São quatro conversas exemplares dos últimos anos, para ir ouvindo durante as férias. Voltamos em setembro com novas conversas. Há quatro anos, fomos até ao Porto conversar com Maria Gil, também conhecida como Maria da Fronteira. Mulher, cigana, feminista e ativista antirracista. A sua história de ativismo e luta é longa e teve muitas frentes. Passou por trabalho social dirigido a todas as comunidades, pela representação da comunidade cigana e pelo teatro. Este é o segundo episódio antigo que recuperamos este mês, gravado durante a primeira temporada do podcast, ainda sem estúdio fixo e com outros meios. A exclusão dos ciganos tem um lastro histórico. Foram quinhentos anos de perseguição, com açoitamentos públicos, sedentarizações forçadas, institucionalização de crianças para instrução e proibição do uso da sua língua, dos seus trajes e das suas celebrações. Só em 1822 lhes foi atribuída a cidadania portuguesa e, mesmo assim, uma portaria de 1848 exigiu que usassem passaporte. Mesmo depois do 25 de abril, no final dos anos 90, houve uma autarquia que decretou a sua expulsão do concelho. E estamos apenas a falar de racismo explícito e institucional. O outro, disseminado por toda a sociedade, dura quase intocado até hoje. O Holocausto Judeu marcou para sempre a forma como lidamos com o antissemitismo. Estranhamente, o Holocausto cigano foi apagado da memória, permitindo que se perpetuasse a perseguição, a exclusão e o preconceito. É raro que os próprios ciganos sejam chamados a um debate que lhes diz antes de todos respeito. E é por isso que neste episódio falamos com Maria Gil, mulher, cigana, feminista e ativista antirracista. A sua história de ativismo e luta é longa e teve muitas frentes. Passou por trabalho social dirigido a todas as comunidades, pela representação da comunidade cigana e pelo teatro. Filha de pai e mãe ciganos, crescida dentro da comunidade, vive com um pé dentro e outro fora. Por isso a conhecem como Maria da Fronteira. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Aug 1, 2023 • 1h 31min
Padre Constantino Alves: quem procura a caridade da Igreja nesta crise? [17 de março de 2021]
Para o mês de agosto, enquanto estamos de férias, escolhemos quatro episódios anteriores à chegada do Perguntar Não Ofende ao Expresso. A qualidade de som não será exatamente a mesma, uma ou outra coisa pode estar ultrapassada. Mas são quatro entrevistas quase que considero exemplares das pessoas que demos a conhecer e dos debates que aqui tivemos. Não são o Presidente da República, o primeiro-ministro, os líderes dos partidos, Dilma Rousseff ou grandes figuras da cultura portuguesa, que por aqui passaram e que pode procurar na secção o Perguntar Não Ofende na página do Expresso. São quatro conversas exemplares dos últimos anos, para ir ouvindo durante as férias. Voltamos em setembro com novas conversas. Há mais de dois anos, ainda durante a pandemia, fomos até Setúbal conversar com o padre Constantino Alves. Na paróquia de Nossa Senhora da Conceição há um restaurante social, uma clínica social dentária e até um espaço ecuménico de culto. Os pobres estão no centro da ação pastoral, como é suposto que aconteça para qualquer cristão. Com a pandemia, aumentou a procura de apoio social, sobretudo de imigrantes, num contexto onde há muitos bairros sociais. O padre Constantino Alves, convidado deste episódio de 17 de março de 2021, não é apenas o motor de uma rede que garante apoio alimentar e médico a partir da sua paróquia. Ele é, muitas vezes, a voz dos que vivem em bairros clandestinos e resistem à demolição das suas casas. Já como padre, foi operário e sindicalista. E, antes do 25 de abril, esteve envolvido na resistência à ditadura e na solidariedade com os presos políticos. A sua história é longa, inesperada e extraordinária. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Jul 18, 2023 • 1h 37min
André Carrilho, António, Cristina Sampaio e Nuno Saraiva: o cartoon ofende?
31 anos desde que 28 mil portugueses assinaram uma petição contra um cartoon em que António enfiou o nariz de João Paulo II num preservativo, oito anos desde que milhões de europeus disseram “Je suis Charlie", poucas vezes se deve ter falado tanto de cartoons em Portugal como no último mês. É sobre ele, mas também sobre indignação, tentativas de censura e as redes sociais que conversamos com a sua autora Cristina Sampaio, André Carrilho, António e Nuno Saraiva. Quatro dos melhores cartunistas portugueses. Cristina Sampaio começou a ilustrar livros infantis e a fazer ilustração e cartoons na imprensa em meados dos anos 80, com presença regular no Independente, Expresso e Público e, a nível internacional, no Boston Globe, Washington Post, Wall Street Journal e New York Times. Com ilustrações e cartoons publicados no Diário de Notícias, o grosso do trabalho de André Carrilho tem sido editado internacionalmente, na The New Yorker, Vanity Fair, The New Statesman, The New Republic ou Harper's Magazine. Publicou livros de ilustração e infantis. Nuno Saraiva concebeu, com Júlio Pinto, a Filosofia de Ponta, publicada semanalmente no Independente e posteriormente editada em livro. É ilustrador regular em jornais como o Público e o Expresso e autor de várias capas ou ilustrações para livros. O nome de António confunde-se com o do Expresso, onde publica regularmente há 49 anos, e com a própria democracia portuguesa. Colaborou com o Diário de Notícias, A Capital e a Vida Mundial, sendo publicado de forma regular por algumas das mais destacadas publicações internacionais.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Jul 3, 2023 • 1h 14min
Laura Sanches, Mónica Almeida e Mónica Pereira: devemos banir telemóveis das escolas básicas?
Ter um tempo no dia em que os telemóveis estão inacessíveis é a melhor forma de ensinar a gerir a frustração e a ansiedade. Inevitavelmente descobrirão outras formas de divertimento, interagindo entre si, expressando emoções, reforçado lanços empatia. Também vai ensinar os adultos a interromper o obsessivo controlo sobre os seus filhos. Cada pai e mãe decidirá como gerir o acesso dos seus filhos a telemóveis. Só que a escola é um espaço comunitário onde cada criança é individualmente educada, mas também se educa uma geração. E isso diz-nos respeito a todos. É por isso que um grupo de pais lançou uma petição pública para restringir o uso do telemóvel nas escolas. Neste episódio contamos com Mónica Pereira, uma das primeiras peticionárias. É professora de yoga para crianças, formada em ciências de comunicação e tem uma filha que vai entrar agora para o segundo ciclo, na escola pública. Uma das inspirações para esta petição foi a única escola pública que baniu os telemóveis no recreio, coisa que vários colégios privados já faziam: a EB 2/3 da Lourosa. Foi há seis anos e já é possível fazer um balanço. Nesta conversa também temos Mónica Almeida, diretora do agrupamento António Alves Amorim, em Lourosa, e professora de matemática. Por fim, para debatermos os efeitos da omnipresença destes aparelhos na vida de jovens e adolescentes, participa Laura Sanches, psicóloga clínica e autora de vários livros sobre parentalidade positiva. Dedica-se, entre outras coisas, ao desenvolvimento infantil e aconselhamento parental. See omnystudio.com/listener for privacy information.

Jun 20, 2023 • 1h 19min
Sara Rocha, presidente da Voz do Autista: o que é ser autista?
As ideias feitas que temos do autismo vêm, quase todas, dos filmes de Hollywood, que refletem e perpetuam simplificações, estabelecendo uma associação automática do autismo com comportamentos violentos de pessoas presas nelas próprias, agarradas aos mesmos gestos mecanicamente repetidos até à exaustão e incapazes de cultivar relações humanas ou viver autonomamente. Uma imagem que afasta as pessoas, legitimando comportamentos violentos contra as pessoas com transtorno do espectro do autismo. O desconhecimento e as ideias formadas sobre o tema agravam os problemas de integração nas escolas e no mercado de trabalho, onde o estigma criado associa o desempenho cerebral das pessoas com autismo a trabalhos ligados às tecnologias de informação. Sara Rocha é licenciada em Análises Clínicas e Saúde Pública, e mestre em Gestão e Economia dos Serviços de Saúde. Vive no Reino Unido, onde trabalha como gestora de dados em investigação médica, na área cardiovascular, para a Universidade de Cambridge. Preside à Associação Portuguesa a Voz do Autista, uma organização composta exclusivamente por pessoas com autismo, numa autorrepresentação de quem se sente excluído do discurso público sobre a realidade que vivem quotidianamente. Com ela, tentamos perceber um pouco mais sobre a forma como vive uma pessoa com autismo. Que dificuldades sente, que apoios tem, como é que escolas, empresas e sociedade respondem à diferença quando a têm ao seu lado.See omnystudio.com/listener for privacy information.

Jun 6, 2023 • 1h 32min
Mariana Mortágua: Como virar a página no Bloco de Esquerda?
O descontentamento cresce, mas a extrema-direita parece ser quem mais ganha com isso. Não vivemos o tempo das grandes manifestações contra a troika e o Bloco de Esquerda continua a ter dificuldade na sua implantação social. É neste contexto que Mariana Mortágua sucede a Catarina Martins, a primeira vez que uma mulher substitui outra mulher na liderança de um partido, em Portugal. E pouco usual no mundo. Economista, deputada do Bloco de Esquerda há dez anos – chegou pela primeira vez a deputada por escolha da direção, depois de ter concorrido em 14º lugar. Notabilizou-se nas comissões de inquérito à banca, onde mostrou a sua preparação, capacidade de trabalho e combatividade. Apesar de ter apenas 36 anos, é uma tribuna experimentada. Ninguém duvida da sua capacidade mediática e técnica como líder. Mas coordenar um partido com as particularidades do Bloco de Esquerda, construído de várias sensibilidades e culturas, é coisa que só se sabe fazer com o tempo. Regressa hoje ao Perguntar Não Ofende, desta vez como nova Coordenadora do BE.See omnystudio.com/listener for privacy information.


