Leonardo Weller: Direita brasileira deixou de conter extremistas
Jan 25, 2025
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Leonardo Weller, historiador e professor da FGV São Paulo, coautor de "Democracia Negociada", discute a política brasileira e o papel de partidos como o PT e o PSDB na construção de consensos. Ele analisa a trajetória da Nova República e eventos como o impeachment de Dilma Rousseff, revelando os desafios que a democracia enfrenta. Weller argumenta que a extrema direita, representada por Bolsonaro, emergiu em um cenário de polarização, apontando para a urgentíssima necessidade de um novo centro político para restaurar a democracia no Brasil.
A construção de consensos na política brasileira é essencial para a estabilidade democrática e para a contenção de extremismos.
A atual direita falhou em criar um centro político inclusivo, necessitando de uma nova abordagem para restaurar o equilíbrio democrático.
Deep dives
O Papel dos Partidos na Democracia
Para o funcionamento eficaz da democracia, é essencial que os partidos políticos sejam capazes de captar votos de diversas correntes ideológicas sem adotar posições extremas. No Brasil, partidos como o PT e o PSDB conseguiram históricos de atração tanto de eleitores comunistas quanto de simpatizantes da ditadura militar. Essa habilidade dos partidos em construir um centro político inclusivo é vista como fundamental para contenção de extremos e a estabilidade democrática. Entretanto, a atual direita no Brasil falhou nessa função, deixando um vazio que precisa ser preenchido por um novo centro político.
A Construção do Consenso na Nova República
O livro 'Democracia Negociada' analisa a política brasileira a partir dos anos 80, sublinhando que a construção de consensos foi um traço chave da sua evolução, em vez de confrontos abertos entre forças opostas. Durante a redemocratização, uma união política entre lideranças de diferentes orientações foi essencial para garantir a transição democrática. Esse acordo, ainda que criticado por alguns como uma evidência de fraqueza democrática, é considerado pelos autores como uma virtude que possibilitou uma estabilidade maior. Esse processo é comparado com os desafios contemporâneos, demonstrando a importância de encontrar um equilibro entre diferentes visões políticas.
O Papel da Constituição de 88
A aprovação da Constituição de 1988 foi um marco na história política brasileira, caracterizada por uma estrutura de negociação que refletia a diversidade das forças políticas do país. Durante o processo constituinte, duas facções inicialmente antagônicas - progressistas e conservadores - precisaram encontrar um terreno comum para garantir a adoção da nova Constituição. As negociações constantes entre esses grupos eram cruciais para evitar colapsos na constituição da democracia e refletiam uma abordagem colaborativa em um momento crucial da história nacional. A dinâmica do legislativo conservador em contraste com a liderança progressista continua a influenciar a política brasileira até os dias atuais.
Desafios Contemporâneos e Perspectivas Futuras
Atualmente, o cenário político brasileiro enfrenta desafios significativos, especialmente em relação à polarização e à ascensão da extrema-direita, exemplificada pelo governo Bolsonaro. Embora a estrutura política tenha mostrado resistência, a falta de um espaço para a contenção dos extremos é um ponto preocupante, pois pode levar a uma instabilidade maior. A necessidade de um novo centro político que possa dialogar com diferentes correntes é vista como crucial para a restauração e fortalecimento da democracia. O futuro dependerá da capacidade dos partidos em reintegrar as vozes de condições radicais dentro de um quadro de governança democrático.
O Ilustríssima Conversa recebe nesta semana o historiador Leonardo Weller, professor da FGV São Paulo.
Weller é coautor, com Fernando Limongi, de “Democracia Negociada: Política Partidária no Brasil da Nova República”. O livro analisa os pilares do sistema político brasileiro e oferece uma interpretação de momentos-chave da história do país das últimas décadas, como a aprovação da Constituição de 1988 e o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Na entrevista, Weller explica por que o livro defende que a construção de consensos caracteriza melhor o funcionamento da política brasileira que o embate aberto entre forças antagônicas.
O pesquisador também fala sobre os fatores por trás do que chama do período glorioso da Nova República, os quase 20 anos de governos federais do PSDB e do PT.