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O Assunto

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Jul 1, 2022 • 23min

PEC Kamikaze: auxílios e bombas

A proposta de emenda constitucional esnobada pelo ministro da Economia em fevereiro acaba de passar, em versão mais que turbinada, em dois turnos no Senado. Entre uma data e outra, falharam seguidas manobras para conter a alta dos combustíveis. Agravaram-se as condições de vida da população e também a situação eleitoral de Jair Bolsonaro. “É a última opção para levá-lo ao segundo turno", diz o analista político Thomas Traumann sobre o texto que, ao instituir estado de calamidade pública até 31 de dezembro, permite gastar sem respeitar teto, além de dar a volta em restrições da legislação eleitoral. Entre benefícios, vales e vouchers para caminhoneiros e taxistas, serão aproximadamente R$ 41 bilhões de impacto fiscal, a ser sentido a partir de 2023. Na conversa com Renata Lo Prete, Traumann, colunista da revista Veja e do site Poder 360, analisa ainda outros itens da pauta pré-recesso do Congresso, como o esforço para blindar o Orçamento secreto, seja qual for o próximo governo.
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Jun 30, 2022 • 30min

Assédio: a queda do presidente da Caixa

Propostas de contato físico, insistência, constrangimentos em privado e também diante de terceiros. “Começaram em janeiro de 2019, quando ele assumiu”, relata a jornalista Heloísa Torres, depois de ouvir algumas das mulheres que denunciaram Pedro Guimarães por assédio sexual e moral. Foram ignoradas pelos sistemas de ouvidoria da Caixa Econômica Federal - quando não perseguidas e removidas de suas funções. Em conversa com Renata Lo Prete, a repórter da TV Globo em Brasília detalha esses depoimentos (“ele se aproximava das mulheres já pegando nelas”), que um dia depois de virem a público derrubaram um dos auxiliares mais próximos de Jair Bolsonaro. Participa ainda do episódio Andréia Sadi, apresentadora do Estúdio i (GloboNews) e colunista do g1, envolvida na cobertura do caso desde a primeira hora. Ela descreve os indícios de que o comportamento de Guimarães, sob investigação do Ministério Público Federal, era de amplo conhecimento da diretoria da CEF. Com suas atitudes, “Bolsonaro acaba dando carta branca” para isso, afirma. Andréia fala também da misoginia disseminada na atual administração e das dificuldades de Bolsonaro com o eleitorado feminino. “O governo não fez nada antes e não fez nada agora”, conclui, lembrando que o presidente esperou pela carta de demissão de Guimarães - a ser substituído por Daniella Marques, integrante da equipe do ministro Paulo Guedes.
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Jun 29, 2022 • 27min

MEC: corrupção, acobertamento e CPI

O que começou como denúncia de um esquema de pastores com trânsito no Palácio do Planalto para traficar recursos da educação virou, três meses depois, um pedido de investigação sobre a conduta do presidente da República. E ameaça se transformar em mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito no caminho dele - desta vez, a pouca distância das eleições de outubro. Neste episódio, Renata Lo Prete recebe os jornalistas Vera Magalhães e Bruno Tavares. O repórter da TV Globo, primeiro a revelar ligações telefônicas em que o ex-ministro Milton Ribeiro afirma ter sido alertado por Jair Bolsonaro da iminência da operação da PF na qual seria preso, detalha a origem e o alcance das escutas (mais de 1.700 áudios) captadas com autorização da Justiça. Ele também lembra o que acontece agora que a ministra do Supremo Carmem Lúcia acionou a PGR: “Augusto Aras vê elementos para investigar Bolsonaro? Isso terá que ser dito”. Na conversa com Renata Lo Prete, Vera é cética quanto às chances de o procurador-geral se mexer. Ainda assim, “essa apuração sobre vazamento de informações e obstrução do trabalho da polícia tem potencial de estrago para Bolsonaro”, avalia a colunista do jornal O Globo, comentarista da rádio CBN e apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura. A partir da apresentação, nesta terça-feira, do pedido de abertura da CPI do MEC, Vera diz o que esperar do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de quem depende a instalação. Analisa ainda as movimentações dos governistas para evitar ou, no mínimo, empurrar ao máximo o início dos trabalhos da comissão.
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Jun 28, 2022 • 31min

Mulheres: direitos reprodutivos sob ameaça

Primeiro, veio à tona o episódio de uma criança de 11 anos cuja interrupção da gravidez foi impedida por uma juíza em Santa Catarina. Depois, a atriz Klara Castanho viu sua história (um estupro seguido por gestação indesejada e doação do bebê) divulgada a todo país, contra sua vontade. Em meio a isso, nos Estados Unidos, a Suprema Corte derrubou a lei que garantia o direito ao aborto em todos os estados americanos desde 1973. “Controlar os corpos das mulheres é fundamental para os poderes autoritários e patriarcais”, resume Debora Diniz, professora da UnB e pesquisadora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. Em entrevista a Julia Duailibi, a antropóloga relacionou as “duas histórias de violência” a elementos estruturais da misoginia, e explicou por que a educação sexual nas escolas é “fundamental”. Também neste episódio, o obstetra Olímpio de Moraes descreveu o código de ética médico para lidar com situações de interrupção de gravidez: “ouvir sempre e nunca julgar”. Ele, que também é diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury Medeiros, hospital referência em saúde da mulher em Pernambuco, detalhou a lei de mais de 80 anos que regulamenta em que casos a Justiça permite o aborto: caso a mãe corra risco de morte ou a gestação seja resultante de estupro. “É muito raro a mulher vítima de violência continuar a gravidez”, relata. “Para ela, todo dia é uma tortura”.
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Jun 27, 2022 • 25min

Bolsonaro e os sentidos da necropolítica

Diante das centenas de milhares de vidas brasileiras perdidas na pandemia, normalização e deboche. Em resposta à tortura e morte de um cidadão por policiais rodoviários federais, desconversa. Nos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Philips, responsabilização das vítimas. Três exemplos da política de violência sistêmica que “glorifica a morte como espetáculo” e teve seu nome cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe. Para entender o fenômeno e como ele se impôs entre nós, Renata Lo Prete recebe neste episódio Silvio Almeida, professor visitante de Direito da Universidade de Columbia e presidente do Instituto Luiz Gama. Ele explica os traços comuns a esses e outros casos ocorridos sob “um governo que sabe operar os instrumentos de morte de maneira muito eficaz”. Para Silvio, a superação da necropolítica passa por um reordenamento em que “fome e miséria não sejam mais toleradas”, paralelamente à valorização de serviços fundamentais para a vida (como o SUS) e ao estabelecimento de políticas culturais que resgatem o “significado simbólico” dos que partiram.
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Jun 24, 2022 • 27min

Lembrar de Betinho para combater a fome

Diante do retrocesso brutal na garantia do mais básico dos direitos, especialistas alertam: além de cobrar das autoridades que façam sua parte, retomando políticas públicas hoje esvaziadas, é urgente mobilizar a sociedade civil. Como fez, há três décadas, o sociólogo Herbert de Souza, idealizador de campanha pioneira para levar comida aos brasileiros mais pobres. Na largada do “Natal sem Fome”, do qual nasceu a ONG Ação para a Cidadania, 32 milhões enfrentavam esse drama. Hoje, os avanços significativos observados até 2014 foram perdidos, e o número mais recente é ainda pior que o do início dos anos 90: 33 milhões. Em conversa com Renata Lo Prete, Kiko Afonso, diretor-executivo da Ação, aponta retrocesso também na percepção da gravidade do problema. “Hoje, até mesmo quanto à fome há divisão”, diz. Contra todas as evidências, “uma parte da sociedade nega que ela exista”. Sem diminuir a importância das doações, especialmente no quadro alarmante do momento, Kiko ressalta a necessidade de conscientizar pessoas e empresas do imperativo de se envolver, abraçando a retomada de programas exitosos e elegendo candidatos comprometidos com a erradicação da fome.
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Jun 23, 2022 • 29min

Assédio: servidores na era Bolsonaro

Muito antes de sofrer a emboscada na qual seria assassinado no Vale do Javari, o indigenista Bruno Pereira denunciava as ameaças que ele e colegas de serviço público sofriam da “máquina pesada” instaurada pelo atual governo, que descreveu como “autoritário” em sua última entrevista, à Folha de S. Paulo, detalhando de que maneiras o presidente da Funai o pressionava. Não era um caso isolado. A pesquisadora Michelle Morais de Sá e Silva reuniu dezenas de relatos de funcionários que, sob condição de anonimato, expuseram o clima de “medo coletivo” predominante nas mais diversas áreas da administração federal. Em conversa com Renata Lo Prete, a professora da Universidade de Oklahoma (EUA) explica, em primeiro lugar, o “embaralhamento” imposto: parcela expressiva dos servidores foi transferida de seus órgãos de origem sem lógica nem consentimento, comprometendo a eficiência do serviço prestado e, em vários casos, a saúde física e mental dos atingidos. Participa também do episódio o sociólogo Frederico Barbosa, pesquisador do Ipea e um dos organizadores do livro “Assédio Institucional no Brasil: Avanço do Autoritarismo e Desconstrução do Estado”. Ele explica que, de 2019 para cá, houve “mudança de método”: a atitude oficial agora, além de mais agressiva para com os indivíduos, visa também desqualificar os órgãos públicos. As pessoas “adoecem”, enquanto as instituições “perdem seu próprio sentido”.
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Jun 22, 2022 • 23min

Bolsonaro, Lira e o teatro dos combustíveis

Desde o início do ano, a gasolina acumula alta de 9%, e o diesel, de 25%. Sob o impacto da crise internacional no setor de energia e do real desvalorizado, puxam uma inflação que corrói o poder de compra dos brasileiros e as chances de reeleição do presidente da República. Em resposta a este problema concreto, ele e aliados no Congresso escolheram um inimigo imaginário: a Petrobras. Uma ofensiva que escalou a patamar inédito a partir do último reajuste anunciado pela estatal, na sexta-feira passada. Em conversa com Renata Lo Prete, o jornalista Carlos Andreazza examina as ideias lançadas pelo consórcio Bolsonaro-Centrão para bombardear a empresa - de CPI a uma Medida Provisória que esvaziaria, numa canetada, as conquistas de governança trazidas pela Lei das Estatais, de 2016. Bolsonaro, diz o colunista do jornal O Globo e apresentador da rádio CBN, replica sua eterna “lógica do confronto” ao trocar o comando da Petrobras pela terceira vez. E o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), “dá aula de patrimonialismo” quando defende a MP em nome de “maior sinergia entre as estatais e o governo do momento”. Como principal elemento da farsa, Andreazza aponta o fato de que, ao longo da cruzada, Bolsonaro e auxiliares jamais colocaram em discussão a política de Preço de Paridade Internacional (PPI), dado essencial da equação. Para o jornalista, do barulho todo restará uma conta de pelo menos R$ 50 bilhões que conseguirá, no máximo, “maquiar a bomba de gasolina até a eleição”.
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Jun 20, 2022 • 1h 33min

ESPECIAL: Renata Lo Prete entrevista Simone Tebet

Pré-candidata pelo MDB, Tebet anuncia que, caso assuma a Presidência, irá lutar pela adoção de políticas que busquem o “desmatamento zero”. Ela defende duas bandeiras como “principais objetivos” de sua candidatura: “erradicar a miséria” e garantir que “não se derrube uma árvore de forma ilegal no Brasil”. Entre suas propostas, sugere recriar um ministério específico para Segurança Pública e advoga pela manutenção do teto de gastos: “a responsabilidade fiscal existe para alcançar um fim, que é a responsabilidade social”. Perguntada sobre o que fará caso não esteja no 2º turno, respondeu que “no palanque eleitoral defendendo a democracia”. Aos 52 anos, Simone, que é senadora pelo estado de Mato Grosso do Sul, concorre pela 1ª vez. O Assunto apresenta a primeira rodada de entrevistas do jornalismo da Globo nas eleições deste ano. O encontro de 1h30 de duração foi transmitido ao vivo pelo g1 na tarde da segunda-feira (20) e publicado na íntegra como episódio especial do Assunto. Foram chamados os cinco pré-candidatos com melhor pontuação na pesquisa Datafolha do dia 26 de maio. A campanha do presidente Jair Bolsonaro, do PL, não chegou a enviar representante ao sorteio da ordem. A do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enviou. Nenhuma das duas confirmou presença até a data-limite, 3 de junho. Ciro Gomes (PDT) foi entrevistado em 13 de junho. No dia 11 de julho é a vez de André Janones (Avante).
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Jun 20, 2022 • 29min

Bolsonaro e o octógono do golpe

Em 2018, as urnas deram vitória ao candidato que se apresentou como “outsider”. Alojado no então nanico PSL, Jair Bolsonaro prometia governar contra toda a política tradicional. Quatro anos depois, concorre à reeleição pelo notório PL, mas mantém o discurso antissistema. “Ele tenta convencer sua base de que, mesmo com o Centrão, segue lutando”, afirma Marcos Nobre, autor do livro “Limites da Democracia”, recém-lançado pela editora Todavia. Para o núcleo duro de seu eleitorado, “deu certo”, resume o professor de filosofia da Unicamp, também presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Em conversa com Renata Lo Prete, ele recupera uma linha do tempo que começa nos protestos de junho de 2013, passa pela Operação Lava Jato e chega à ascensão do “partido digital bolsonarista”. Nobre descreve uma tempestade perfeita em que se misturam radicalismo, relação umbilical com as Forças Armadas e Centrão no comando do Orçamento secreto. “Bolsonaro joga um jogo muito diferente daquele jogado pelas forças democráticas” diz, ressaltando que isso tende a se prolongar para além de outubro: “Para ele, ganhar eleição não é objetivo, mas instrumento”. Diante daquilo que descreve como iminente “caos social duradouro”, Marcos aponta que apenas a união dos mais diferentes setores pode se contrapor a “todas as possibilidades de golpe” que estão no horizonte. “É um momento sem volta: ou daremos um salto democrático, ou perderemos a democracia”.

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