Mariana Faiad, antropóloga e professora na Universidade Federal de São Carlos, traz uma visão profunda sobre o crescente nacionalismo hindu na Índia sob Narendra Modi. Discutem-se casos de linchamento e violência contra muçulmanos, revelando a hostilidade exacerbada por rumores e tensões religiosas. Faiad também examina as políticas controversas que intensificam a exclusão de minorias e a repressão à oposição, além do clima de medo e censura que permeia a sociedade indiana atual.
O nacionalismo hindu sob o governo de Modi promove a violência contra muçulmanos, evidenciado por linchamentos e repressão a minorias religiosas.
A erosão da democracia na Índia se intensifica com a repressão à liberdade de expressão e a intimidação de opositores.
Deep dives
Caos no Trânsito de Nova Delhi
O trânsito em Nova Delhi é descrito como caótico, refletindo a superpopulação da cidade e da Índia como um todo, que possui quase 1,5 bilhão de habitantes. O congestionamento é causado por uma intensa competição entre diversos meios de transporte, como carros, ônibus, motos e tuk-tuks, além da omnipresença das vacas, que são sagradas para a maioria hindu. As vacas, paralisadas em meio às avenidas, simbolizam a influência cultural e religiosa que permeia o cotidiano da cidade, onde a reverência por esses animais se torna uma característica distintiva da sociedade indiana. Essa reverência à vaca ressalta a complexa interseção entre política e religião, especialmente à medida que a influência dos hindus aumenta desde 2014 com a ascensão do BJP ao poder.
O Nacionalismo Hindu e suas Consequências
O governo de Narendra Modi é fortemente associado ao nacionalismo hindu, promovendo uma ideologia que deslegitima e persegue as minorias, especialmente os muçulmanos. Desde a sua ascensão, houve um aumento alarmante de crimes motivados pela proteção das vacas, com relatos de linchamentos e violência contra indivíduos acusados de abate. Esta ideologia extremista é alimentada por discursos de representantes do BJP que incitam o ódio e a divisão entre os grupos religiosos, levando a uma erosão das liberdades e ao controle da oposição. O ambiente político se torna cada vez mais hostil, com repressão a jornalistas e ativistas, destacando a fragilidade da democracia na maior democracia do mundo.
A Morte de Aklaq e a Violência Comunidade-Religiosa
A brutalidade da morte de Aklaq, um muçulmano acusado injustamente de abater uma vaca, serve como um exemplo chocante do aumento da violência sectária na Índia. O episódio desencadeou uma série de ataques contra a sua família e destacou a exploração de narrativas de ressentimento sociopolítico por grupos extremistas hindus. O caso, que culminou em violação dos direitos humanos e impunidade para os agressores, mostra como as minorias religiosas são continuamente ameaçadas sob o atual regime. Muitas vezes, a justiça leva anos e os perpetradores permanecem livres, evidenciando a falha do sistema judiciário em oferecer proteção a esses grupos vulneráveis.
Desafios à Liberdade de Expressão e Democracia
Com o governo de Modi em seu segundo mandato, a repressão à liberdade de expressão e a perseguição de líderes da oposição tornaram-se preocupações centrais, refletindo táticas típicas de regimes autoritários. Indivíduos que criticam o governo são frequentemente alvos de prisões e processos legais, o que intimida a dissidência e silencia vozes contrárias. As mudanças legais e as operações contra organizações não governamentais ressaltam um padrão de censura amplamente estratégico, direcionado a minar a oposição em um período eleitoral decisivo. Assim, as eleições na Índia, embora ainda existam, operam em um ambiente que cada vez mais se assemelha a uma autocracia eleitoral, onde a manipulação política e a desinformação prevalecem.
Um homem linchado por ser suspeito de ter abatido uma vaca. Um extremista hindu que vigia muçulmanos. Uma jovem muçulmana que fugiu de casa para escapar da violência religiosa. Conheça essas histórias e entenda como o nacionalismo hindu tem avançado na Índia sob o primeiro-ministro Narendra Modi, acusado de minar a democracia no país. O episódio ouve também a antropóloga Mariana Faiad, professora na Universidade Federal de São Carlos. A transcrição pode ser lida no site da Folha.