A Caatinga, bioma que se espalha predominantemente pelo Nordeste brasileiro e que ocupa aproximadamente 10% do território nacional, é bem adaptada a altas temperaturas e à escassez de água - um clima que é classificado pelos cientistas como semiárido. Nas últimas décadas, no entanto, a falta de chuvas por períodos ainda mais prolongados, somada ao impacto do aquecimento global, tem alterado de forma acelerada a paisagem. O impacto foi tanto que uma área de 5 mil quilômetros – equivalente ao Distrito Federal – foi classificada, pela primeira vez na história, como árida. Um alerta de risco para o clima de todo planeta e de urgência para que o poder público atenda aos milhões de brasileiros que vivem na região. Para contar o que está acontecendo por lá, Natuza Nery entrevista Fábio dos Santos Paiva, presidente da Associação de Agricultores do Frade, do município de Curaçá, norte da Bahia, e Humberto Barbosa, professor e pesquisador especialista em desertificação da Universidade Federal de Alagoas. Neste episódio: Fabio relata as muitas alterações que ele observou no clima e na vegetação ao longo das últimas décadas: “A chuva era mais frequente, e não conseguimos mais colher os cultivos que a gente estava acostumado a plantar”. E se emociona ao contar suas lembranças da juventude. “A gente tinha pé de umbuzeiro e, agora, vou lá e o encontro seco e morto. Chega a cortar o coração”, diz; Ele conta o desafio de alguns colegas que moram em fazendas para conseguir água potável ou irrigação adequada para plantar ou criar animais. “Os jovens veem que não é viável viver em um ambiente que não tem como crescer”, lamenta. “E quando piora para nós, do semiárido, todo mundo também é afetado”, resume; Humberto explica como nas últimas três décadas a região Nordeste sofreu com fortes secas, degradação da paisagem e desmatamento – e de que modo isso se reflete nas alterações do ecossistema. “É como se fosse um vulcão adormecido. Houve transições e o nosso semiárido se tornou mais árido”, esclarece; O pesquisador afirma que há dois motivos para o processo de desertificação na Caatinga: as mudanças climáticas e a ação humana. “A degradação do solo e rios aumenta a pressão e, no futuro, vai trazer desafios para as populações ribeirinhas e para a produção de alimentos pela agricultura familiar”, alerta.